Economia de água em pauta: possibilidades e realidades dentro do mercado jeanswear

Já há algum tempo, estamos falando em sustentabilidade, economia de água, energia, diminuição de produtos químicos ou até mesmo a utilização somente de fios e processos orgânicos. Tudo isso faz parte dos processos (ou deveria fazer) da maioria das empresas têxteis, lavanderias e confecções. Informar seus consumidores dos projetos que envolvem a preocupação com o meio ambiente, ainda mais em época de racionamento de água, como aconteceu no início do ano, é muito importante e essencial para conquistar a admiração de seu público-alvo não somente pelo produto, mas também pela responsabilidade social e ambiental. Do outro lado, os consumidores valorizam sim todas essas ações e as cobram das empresas, mas não querem pagar a mais por isso.

Uma das soluções mais recorrentes e muitas vezes, fáceis e simples de se praticar, além de ser obrigatório pela legislação ambiental brasileira desde a década de 90, é a economia de água nos processos de fabricação dos tecidos. Separamos aqui algumas empresas que se destacam neste quesito essencial dentro das produtoras têxteis.

Cedro Textil: A tecelagem mantém o projeto “Cedro: Água Milagrosa” que desde 1985 vem preservando e economizando água. Atualmente, as suas 4 unidades fabris consomem entre 32 e 45 litros de água por quilo de tecido, contra uma média do setor de 70 a 90 litros para a mesma quantidade produzida. A Cedro ainda criou o “Alô Verde” que promove a discussão de assuntos ambientais e a conscientização de colaboradores, fornecedores, clientes, parceiros e comunidade sobre a importância da preservação da natureza.

A coleção BioFashion, lançada no início do ano passado, traz produtos com tecnologia livre de sulfeto, que permite uma economia no processo industrial em torno de 6 milhões de litros de água por ano. E na lavanderia, redução em torno de 33% de água. A linha Vintage vem com um corante sulfuroso que permite que se faça na lavagem uma graduação de cor, efeitos useds e marcação de costuras. Já a Coated traz cores com aplicação de resina que na lavagem revelam a tonalidade de fundo e conferem aspecto denim atingindo várias graduações e efeito bicolor. Esses tecidos 100% biodegradáveis vem com o tag “Identidade BioFashion” produzido com papel de sementes que pode ser plantado.

Vicunha: A empresa segue todas as normas ambientais e mantém programas como o 3R´s (Redução, Reutilização e Reciclagem) e a conscientização dos colaboradores. Detém ainda o selo verde Oeko-Tex, um reconhecimento internacional que atesta a excelência da companhia no que diz respeito aos produtos índigo e brim, por não oferecerem prejuízo à saúde e ao meio ambiente.

Em relação aos tecidos, a Vicunha tem em seu portfólio o Eco-D, colors denims nos tons Hortelã, Pequi, Melância e Tangerine e que são produzidos através de poliéster provenientes de garrafas PET juntamente com algodão BCI (Better Cotton Initiative). O tingimento ECO-SULPHUR também é sustentável: são utilizados corantes que combinados à glicose (biodegradável) otimizam sua absorção e fixação nas fibras e reduzem o consumo de água em 80%. Além disso, a empresa participa de projetos diferenciados, como o DenimLAB, laboratório de jeanswear da Universidade Veiga de Almeida, no Rio de Janeiro onde os alunos trabalham com metragens de jeans inutilizados confeccionando peças, objetos de decoração, além de participar de palestras e workshops. O laboratório em parceria com a Vicunha trouxe para o Brasil o artista plástico britânico Ian Berry (Denimu) que faz quadros com retalhos de jeans e que apresentou palestras, workshops de criação e a instalação “Parede Viva” feita com plantas tropicais e sobras de denim.

Capricórnio: A empresa têxtil investe em pesquisas que contribuam com a redução de água e energia, além de produtos químicos e corantes mais tecnológicos que permitem a eliminação de algumas etapas no processo de produção possibilitando também reusos. Como exemplo, temos a recuperação da água da chuva que é utilizada para lavar o piso e irrigação dos jardins nas unidades industriais e um projeto em andamento para modificação e complementação do atual sistema de tratamento de efluentes com acréscimo de outras etapas na ETE que permitirá atingir 100% de reuso de água do processo industrial. Também em fase de desenvolvimento, o reuso da água da lavagem das máquinas de tingimento com perspectiva de redução de mais de 40% do consumo total de água, passando dos atuais 15m³/h para aproximadamente 9 m³/h.

Em relação a economia de energia, a empresa está renovando equipamentos de alto consumo por equipamentos mais modernos e eficientes (ex: compressores), trocando as lâmpadas das instalações por lâmpadas de LED, comprovadamente de menor consumo energético, e instalando sensores automáticos de presença.

Dentro desses projetos, a Capricórnio lançou, em 2011, o Indigo Fix, um processo de tingimento onde a fixação do corante na fibra de algodão foi melhorada através da utilização de fixadores e bloqueadores, atingindo uma redução de consumo de água na unidade de tingimento de 25m³/h para 15 m³/h. Isso representa uma economia de água de 240.000 l/dia (84 milhões de litros/ano).

Os lançamentos desta temporada ficam por conta de duas novas cores, Inside Green e Fountain Blue, desenvolvidas para propiciar lavagens com grande versatilidade, alto contraste em costuras e facilidade nos processos de lavanderia com economia de água, tempo, energia e mão de obra além de marcação de costura mais rápida acarretando além dos benefícios ambientais, economias em torno de 30% nos beneficiamentos, principalmente quando associados a processos com laser e ozônio.

Santista Jeanswear: A tecelagem está sempre buscando novas formas de produção que possam causar menos impacto ambiental inovando em tecnologia e estratégias diferenciadas. Aqui o grande destaque é o projeto DENIM CARE® que respeita as propriedades naturais do algodão, seja ele orgânico, reciclado ou convencional, e economiza mais de 300.00 litros de água por dia no processo de tingimento. A linha Acquasave® combina processos que garantem rápidos desbotes em lavanderia, diminuição de energia térmica, reciclagem e também redução a zero do consumo de água no tingimento do tecido.

Além disso, todos os tecidos da empresa utilizam acabamentos naturais: os compostos químicos são substituídos por fécula de batata, um composto obtido a partir de resíduos da indústria de batatas chips. Já o Arawa® não contém silicone, é hipoalergêncio e biodegradável. Produz um efeito suavizante e aumenta o conforto ao absorver a humidade e os raios solares. Um acabamento natural, ecológico e sustentável que se obtém mediante a utilização do cupuaçu, beneficiando ainda 700 famílias de comunidades da Amazônia.

Canatiba: Uma das grandes preocupações da empresa diz respeito ao consumo e tratamento de água em seu parque fabril. Atualmente, mais de 20% da água recebida pela Canatiba é reutilizada e, até o final desse ano, um acordo com a prefeitura de Santa Bárbara do Oeste, cidade onde está localizada a fábrica, permitirá que a Canatiba utilize a água resultante do tratamento dos esgotos da cidade.

Para retratar sua política ambiental, os tanques do reservatório de tratamento de água da empresa serviram de cenário para a campanha Inverno 2016, com os modelos Paolla Rahmeier e Baptista Demay, clicados pelo fotógrafo Renam Christofoletti em diferentes locais. Um jeito diferente e criativo de mostrar ao consumidor a responsabilidade ambiental com informação de moda.

VANESSA DE CASTRO | FOTO: REPRODUÇÃO