Projeto Trama Afetiva aborda a Economia Circular

Aconteceu entre os dias 20 e 23 de agosto a terceira edição do projeto Trama Afetiva, uma iniciativa da Fundação Hermann Hering, com direção criativa de Jackson Araujo e Luca Predabon. Desde 2016, o evento reúne estudantes e profissionais interessados em repensar consumo, questionar modelos de organização social e econômico, e investigar os verdadeiros valores contemporâneos tendo como ferramenta de transformação o design de significado.

A terceiro edição contou com uma programação gratuita de painéis, masterclasses, exposições, oficinas e shows no Centro Cultural São Paulo. Foram abordados temas como moda, ativismo, resíduos e novas economias, além de contar com as presenças de Fióti, Flávia Aranha, Vicente Perrota, Gustavo Silvestre, Celina Hissa, Renata Simões entre outros.

Segundo Jackson Araujo, idealizador do Trama Afetiva a indústria e o varejo precisam se aproximar das novas relações de criação, produção, educação e consumo. “É necessário ficar atento à falta de sinergia entre o aprendizado formal de design e moda e a nova realidade de mercado que vem se estabelecendo. Nossa proposta é dar o start na formação de profissionais dentro desta nova visão de mercado”, pontuou.

“O Trama Afetiva “parte do princípio de que vivemos uma nova era movida pelo senso de responsabilidade coletiva e por um novo poder regido pela tendência comportamental, batizada de Economia Afetiva. Um poder de organizar o todo – vida social, política, econômica, cultural. O que por muito tempo foi visto como assunto fora de pauta, ganho cada vez mais espaço no lifestyle dos novos tempos”, para Amélia Malheiros, gestora da Fundação Hermann Hering.

Jackson Araujo abriu o evento falando que atualmente o capital é humano e é um desafio constante trabalhar com a economia criativa e afetiva seguindo o conceito de rede. Segundo ele, “a moda não é sobre roupas, mas sobre pessoas”, não é somente produto, e sim inovação com propósito. Jackson abordou ainda quatro pilares importantes da sustentabilidade: ecologicamente correto, socialmente justo, economicamente viável e culturalmente aceito.

O “faça você mesmo” se transforma no “faça com os outros e para os outros”. “Nesse cenário o que sai de cena é o racionalismo, o individualismo e a independência e seguimos para o pluralismo e interdependência, corpos permeáveis, se contaminar uns com outros para disseminar uma coisa boa pelo planeta”, afirma Jackson.

Essa edição defende a ideia da moda como micropolítica de transformação, que é entender que o presente se estabelece como um canal estratégico, para mudar essa situação. Entender o diferente, diversidade de gêneros e admitir que o verdadeiro político cuida de si e só assim consegue cuidar dos outros.

Carla Tennenbaum representante do Craddle 2 Craddle no Brasil (produção do berço ao berço) abordou a economia circular. “Não existe uma definição única ou consensual do que é a economia circular, essa é uma ideia, um movimento que vem surgindo, que vem sendo construído coletivamente em vários lugares do mundo e por vários atores, setores, então desde empresas grandes e pequenas, organizações da sociedade civil, governos regionais, municipais, universidades… É isto que traz todo esse poder, este interesse, mas também dificulta a gente navegar porque tem algumas interpretações diferentes do que seja”, comentou.

As melhores definições sobre Economia Circular, segundo Carla são: ela mantém o valor em circulação (dos materiais), trabalha com a intencionalidade, com foco no design, no momento de criação, e não lá no final da cadeia, e, por fim é regenerativa, porque já passamos do ponto onde só prevenir é o suficiente, precisamos pensar em como podemos regenerar os sistemas naturais e sociais para as próximas gerações.

Segundo Carla, a Economia Circular é uma visão de futuro, de onde queremos chegar, porque atualmente, não há uma empresa que segue totalmente esse conceito. É uma tentativa de pensar de como poderia ser, como a nossa produção e consumo, poderiam e precisariam funcionar para se sustentarem a longo prazo.

“A grande questão hoje em dia é a falta de critério para o que é sustentável. Essa palavra foi tão usada e tão divulgada que se esvaziou. Reduzir danos e minimizar os efeitos foca na maneira quantitativa, no quanto e no como e, não se questiona no que está fazendo. Ser menos ruim não é ser bom”, afirma Carla.

E continua: “É necessário ter uma abordagem qualitativa, seguindo a ideia da efetividade: o que quero fazer? Que efeito quero que meu produto tenha no mundo? O objetivo é ter qualidade e não o zero impacto. “O zero já não é o objetivo, é a linha do meio, se a gente está negativo, a gente vai tentar reduzir, ao mesmo tempo, a gente está tentando ampliar nosso efeito positivo”.

Três princípios do Craddle 2 Craddle: utilizar os resíduos como nutrientes, usar a entrada solar e ilimitada, renovável e celebrar a diversidade de culturas e soluções, valorizando o contexto do lugar e a sabedoria das pessoas.

Tecnologia e sustentabilidade

Fábio Tolosa da Epson do Brasil apresentou uma nova máquina que recicla o próprio papel usado em um processo de religação da fibra de celulose e, que ajusta a gramatura e já sai com a folha cortada, limpa e com opções de cores diferentes.

O primeiro dia contou ainda com o painel O poder da Lógica Circular”, com a presença de Jonas Lessa e Lucas Carvalho da Retalhar, que recicla uniformes profissionais produzindo diferentes produtos. A marca Revoada que transforma resíduos em acessórios de moda, trabalhando com câmara de pneus e nylon de guarda-chuva em um ciclo de produção sustentável baseado na Economia Circular, Patrícia Centurion, joalheira que trabalha em projetos sociais e sustentáveis e Luciano Amado da empresa Santa Fé que desenvolve feltros reciclados entre outros produtos.

O evento seguiu com a exposição “Nós – Resultado criativos do Trama Afetiva Edição 2018”, além de assuntos como Música, moda e resistência com Fióti (CEO da Laboratório Fantasma), Moda com Ativismo, Empreendedorismo Cívico, entre outros.

Fonte: Vanessa de Castro | Foto: Divulgação