A matéria da vez é sobre ESTONAGEM ENZIMÁTICA!
E por quê?
Porque acreditamos que um dos grandes “charmes” do jeans são as MARCAÇÕES DE COSTURAS que o corante índigo e o tecido denim proporcionam, entre tantas outras características incríveis!
Das pedras para estonagem (o legítimo STONE WASH) às ENZIMAS:
Já é muito conhecido e bastante disseminado o STONE WASH que teve início nos anos 70, com o uso de pedras para alcançar as marcações de costuras e queda do fundo que, por vezes, tanto almejamos no jeanswear. Porém, agora vamos falar sobre o uso das ENZIMAS que chegaram em substituição às pedras cinasitas e pomes.
Por volta de 1990 os cientistas da NOVOZYMES¹ desenvolveram as primeiras enzimas que viriam em substituição às famosas pedras de estonagem. Sendo uma solução biológica, reduziriam o consumo de água, energia e até mesmo de outros químicos.
E como as enzimas funcionam?
Enzimas para o processo de estonagem, normalmente são chamadas de CELULASES e são constituídas por proteínas. São variantes de proteínas com alta complexidade molecular, e dependem do fungo ou bactéria que a produziu (existem centenas delas²).
Elas “quebram / atacam” as fibras pequenas na superfície do fio. Afrouxando o corante que, por ter uma molécula grande e de baixa solidez, facilitam assim, as marcações tão desejadas. Bem como os efeitos de fundos, como por exemplo o STONE, SUPER STONE, DESTROYED, HIPER DESTROYED e demais variações derivadas desses fundos.
Fazendo um overview sobre o universo da química que permeiam as enzimas, o fato de hoje existirem diversos tipos de celulases, faz com que cada tipo de enzima aja de forma diferente. Entretanto, sempre com o objetivo final de “agredir” de uma forma bruta ou suave, a estrutura de celulose (principal composição da fibra do denim³).
O que considerar sobre a aplicabilidade das enzimas:
TEMPERATURA, PH e DOSAGEM.
A aplicação de uma enzima tipo celulase, pode variar esses três fatores de acordo com o objetivo final. Exemplificando:
ENZIMAS COM pH ÁCIDO, normalmente são mais agressivas, porém, devido ao meio e temperatura de aplicação, agridem mais o substrato fazendo com que o corante índigo seja mais “liberado”. Característica essa chamada estonagem mais igualizada e migrada.
Atualmente, enzimas tipo ácidas são mais utilizadas para um acabamento chamado BIOPOLIMENTO (eliminação de “pelos” / fibrilas que se levantam decorrentes da mistura de fibras ou devido à abrasividade dos processos). Porém, vale ressaltar que, também existem enzimas neutras em pó ou líquidas, que fazem o efeito do biopolimento.
ENZIMAS NEUTRAS (com pH mais para neutro), são mais balanceadas e agridem com melhor uniformidade e menos agressividade os artigos de celulose.
Além do pH, a TEMPERATURA é outro fator determinante para um resultado diferenciado, podendo ativar e ou resguardar a performance de acordo com o tipo de enzima utilizada.
Atualmente, é possível encontrar no mercado enzimas que vão desde em pó até líquidas. Que trabalham a frio ou com pouca temperatura, que proporcionam menos desbote de corante índigo e possibilitam maior efeito flocado entre a trama e o urdume dos substratos.
E falando sobre a DOSAGEM, vale observar que o percentual de uso das enzimas atuais, devido à grande evolução delas, tende a cada dia que passa, serem menores. Ou seja, cada vez mais, mais sustentáveis. Agora, cuidado com a unidade de medida! Canecada, punhado, dedo NÃO SÃO UNIDADES DE MEDIDAS!!! É necessário o cálculo de porcentagem sobre a maquinada.
Formas de aplicação:
Hoje em dia, as enzimas celulases podem ser aplicadas de várias formas.
Seja pelo convencional BANHO TIPO ESGOTAMENTO, em relações de banhos baixas, tipo 1:3 a 1:4, a frio ou até 60°C (dependendo da enzima e de sua performance), o que já é um grande avanço se comparado há alguns anos quando as relações de banho (RB) eram altíssimas, tipo 1:10 – 1:8. Lembrando que, já temos exemplos de relações de banho 1:2 e até mesmo 1:1 e o tão inovador processo ALL IN ONE.
Por processo de NEBULIZAÇÃO, por ESPUMA / FOAM, por MOUSSE, ambas com relações de uso bem baixas, excelentes performances, economia de água e tempo.
Observações importantes:
É muito importante considerar que, após todo processo com aplicação de enzimas celulase, seja feito o que chamamos de DESNATURALIZAÇÃO DA ENZIMA. Ou, mais popularmente conhecido como NEUTRALIZAÇÃO. Para isso, geralmente um enxague com álcali e/ou até mesmo o aumento de temperatura do substrato tratado, elevando para acima de 70°C (dependendo do tipo de enzima utilizada) pode ser suficiente para esse passo, evitando o enfraquecimento do substrato.
Respeitar os enxagues necessários entre os processos também é tão importante quanto os demais passos. ENXAGUES CORRETOS SÃO IMPRESCINDÍVEIS!
Lembrando que, saber qual tecido está sendo beneficiado é de extrema importância para que haja melhor performance nos processos, menos re-processos e até mesmo indenizações.
Por isso, queridos clientes das lavanderias / beneficiadoras, COMUNIQUEM SEUS PARCEIROS SOBRE QUAL ARTIGO VOCÊ ESTÁ MANDANDO, CONTENDO A COMPOSIÇÃO, TIPO DE TINGIMENTO E QUAL É O FORNECEDOR. Para que, em caso de alguma dúvida, a lavanderia possa entrar em contato com a tecelagem a fim de esclarecê-la.
O assunto enzima é gigantesco e super extenso. Ainda faltou falar sobre a qualidade e parâmetros necessários da água, sobre E.T.E (Estação de Tratamento de Efluentes), curva de ação das enzimas etc. Por isso, se quiserem saber um pouquinho mais sobre, deixem suas sugestões aqui nos comentários ou em nossas redes sociais.
Nos encontramos na próxima matéria!
Um super beijo nosso!
Fonte: Ju Medina e Geisa Camalionte | Foto: Equipe Guia Jeanswear
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Notas de rodapé: ¹ Novozymes é uma multinacional de origem dinamarquesa da área de biotecnologia. Criada em 2000 após desmembramento da empresa-mãe Novo Nordisk (fundada em 1923). | ² Compartilhou e colaborou conosco, a incrível Bete Campilongo. | ³ Denim é o tecido que tem o fio de urdume tingido com o índigo (que é o corante azul) e jeans é a roupa feita com o denim.