No setor de moda, dificilmente associamos grandes grupos e corporações a empreendimentos familiares. A não ser, que estejamos falando do território nacional, onde empreender ainda é um processo humanizado muitas vezes carregado de histórias envolvendo criatividade, coragem e superação. E é um relato desses, que envolve a fundação da Gardana Jeans, que já conta com 11 anos de trajetória no mercado.
Com sede em Bom Princípio, no Rio Grande do Sul, a marca leva na bagagem uma história semelhante, do tipo que transforma adversidade em visão e oportunidade. Após perder o emprego no setor calçadista, Dalia Ledur, matriarca da família, transformou seu amor por costura em novo desafio. Hoje, ela é uma das marcas de jeans remanescentes do território nacional, que detém o domínio completo de sua produção – do desenvolvimento à modelagem.
A empresa é levada por seus filhos Tatiana Ledur, Paulo Alberto Ledur, Alexandre Ledur e Henrique Ledur, a quem compete a administração do grupo da família, o GDN Empreendimentos, e quem concedeu uma entrevista completa ao Guia JeansWear. Confira:

Guia JeansWear: Conte para os nossos leitores a história da criação da marca Gardana Jeans.
Henrique Ledur: Quem fundou a marca foi a minha mãe, Dalia. Trabalhávamos com sapato. Com a crise no setor calçadista ficamos sem emprego e minha mãe adorava costurar. E na região onde trabalhamos tem muitas empresas do segmento de moda.
Então, resolvemos trabalhar com moda, mas pensando em algo diferente do que tinha na região. O jeans foi uma novidade pois lá o produto principal era sapato. No início foi difícil pois é um segmento bem trabalhado, que tem que ser bem feito, mas após 11 anos, conseguimos.
Temos quatro lojas, duas em Farroupilha sendo uma de atacado e outra de varejo, uma em Bom Princípio e outra em Brusque, no Catarina Shopping. Hoje quem administra toda a marca é a Tatiana. Nossos negócios se expandiram também para uma outra empresa, o Centro de Compras Bom Princípio shopping atacadista.
GJ: Qual o perfil do público Gardana?
HL: Atingimos todos os públicos, cerca de 80% corresponde ao feminino, mas a seis anos introduzimos o masculino nas coleções, e desde então a procura vem crescendo bastante.
GJ: Toda a produção de vocês tem fabricação própria?
HL: Somos nós que fabricamos. Hoje temos trinta funcionários e realizamos tudo desde o desenvolvimento até a modelagem e costura, atingindo uma produção de cerca de 7 a 10 mil peças por mês. Lavanderia é o único processo que terceirizamos por enquanto. Existe um projeto de ampliação, em que poderemos ter nossa lavanderia própria, mas por enquanto ainda é mais vantajoso terceirizar. Temos um parceiro de muito tempo que é a Lavanderia Marco Lim e Huff, que já tem mais de 20 anos de trajetória, e trabalha com tudo legalizado desde o processo de uso de água até os produtos químicos utilizados.
GJ: Quantas coleções vocês realizam por ano?
HL: Na verdade nos organizamos para ter novidade toda semana. Nossa visão é ter mais variedade do que quantidade, para que a nossa cliente possa ter uma certa exclusividade no produto que ela usa. Nós criamos o modelo, a peça é limitada e toda semana entram de três a quatro modelos novos no nosso mix.
GJ: Como são feitas as pesquisas para o desenvolvimento da Gardana Jeans?
HL: A responsável pelo desenvolvimento da marca é minha irmã, Tatiana, junto com uma auxiliar. Elas realizam as pesquisas de moda, viajam, para ver as tendências em uma rota envolvendo Europa, São Paulo e a região de Santa Catarina, pois é um pólo de jeans muito forte.
GJ: Qual o principal desafio que a Gardana Jeans já enfrentou?
HL: Na verdade foi o início; o começo é sempre mais complicado – posicionar-se no mercado é um trabalho difícil. E o maior desafio é todo o ano estar inovando. A cada ano o mercado muda e temos que estar sempre se atualizando e a frente do mercado.
GJ: Quais são as próximas metas da marca?
HL: Nosso principal projeto é o shopping. A Gardana Jeans hoje na verdade é um grupo, um empreendimento e estamos buscando diversificá-lo expandindo-o para vários segmentos. Hoje o shopping ainda engloba apenas o segmento da moda – temos dezoito lojas de vestuário – então ainda estamos dentro deste mesmo nicho de mercado, mas projetamos diversificar.
Nosso desafio é amadurecê-lo, pois ele está ativo a apenas dois anos. Queremos desenvolvê-lo mais. A família é grande e queremos ter diversos segmento para empreender para toda ela.
GJ: Empreender em família é mais fácil? Você tem algum conselho para quem vai iniciar um empreendimento baseado em relações familiares?
HL: Empreender em família é um desafio também. Hoje conseguimos segmentar as atividades de cada um, para que cada um seja responsável por sua área e não existam conflitos. Respeitamos muito a divisão que foi feita em setores. Quem é da produção não se envolve com o desenvolvimento, que não se envolve com o financeiro. Cada um segmentando sua área: esta é a minha melhor sugestão para empreender em família.
GJ: Consideramos que o desenvolvimento 100% nacional é algo com que os fabricantes nacionais tem que se orgulhar. Como vocês comunicam esse valor ao consumidor?
HL: Temos essa preocupação, nossa empresa é toda globalizada, regularizada, porque a gente sabe que produtos de fora muitas vezes envolvem uma empresa clandestina. Temos um vídeo institucional com todas essas informações e com frequência divulgamos nossa equipe trabalhando nas mídias.
Todos temos que ter preço mas temos que saber a procedência. Trabalhamos com a Canatiba, nossos fornecedores de aviamentos são todos de confiança. Nossa ideia é fazer um produto bom e de qualidade para servir bem os nossos clientes.
Fonte: Vivian David | Fotos: Reprodução