Impacto Jeans ensina a crescer com sustentabilidade no mercado brasileiro

Quando se pensa em sucesso no mercado da moda com frequência idealizamos um cenário onde uma marca produz a um custo baixo, e o revende a um preço bem mais elevado. Mas será que esta é a única definição de sucesso para um contexto onde a maioria da população, aquela que de fato sustenta o varejo de moda, é a classe B e C?
A marca cearense Impacto Jeans é um desses “cases” que promovem essa reflexão, demostrando  que aceitar o mercado e respeitá-lo em seu poder de compra real, é mais do que um posicionamento: é também uma sábia estratégia.
Fundada em 1991 e com uma produção atual girando em torno de 25 a 30 mil peças mensais, a marca guarda na trajetória uma história de superação. Irani Costa, CEO e fundadora da marca, conta que começou a trabalhar com moda após perder o emprego: momento em que vislumbrou na revenda de roupas uma oportunidade. O “tino” para os negócios logo se manifestou, e Irani então decidiu que não queria mais simplesmente revender, e sim representar uma marca própria.
Nascia então a Impacto Jeans, com o propósito de criar um produto de qualidade por um preço acessível. Ao longo dessa luta, Irani contou com seu marido, Gilson Oliveira, que a ajudou desde os primórdios de sua fundação. Também o estilista Iran Costa, sua sobrinha Fabiana, que modela há 14 anos para a empresa e a piloteira Carla Andreia, pulso firme da produção ha sete anos.
A entrevista exclusiva concedida ao Guia JeansWear foi dada com o mesmo espírito da marca: em equipe, com contribuições muito espontâneas dos CEOs Irani e Gilson, e do estilista Iran. Confira!
Guia JeansWear: Qual o público-alvo da marca?
Iran Costa (estilista): Nosso público-alvo é a mulher de 18 a 35 anos, descolada, que usa o jeans tanto para a balada quanto para o trabalho ou mesmo shopping. É aquela peça básica que você vai para qualquer lugar. Mas ao mesmo tempo, não é uma roupa neutra: é aquela roupa que você veste para causar impacto. Daí o nome e nosso slogan. Você vai querer ficar invisível, ou vai querer causar impacto? Esta é a ideia.
GJ: E como essa busca se reflete no desenvolvimento?
Irani Costa (CEO): Nós criamos as peças como se estivéssemos criando para o nosso próprio filho. Amamos o cheiro de jeans, amamos a peça em si. Temos muita paixão pelos detalhes: forro personalizado, zíper customizado, aviamentos. Mas principalmente, o que mais batalhamos para trazer para o nosso público é o preço: nós buscamos sempre chegar a um preço brasileiro, acessível. Então tem que ser muito bom e justo. É um cálculo bem difícil de fazer. É um desafio, pois temos que agregar conforto, toque, mas por um preço maravilhoso.
GJ: E como vocês chegam a esse preço?
Irani Costa (CEO): Através da parceria com os nossos fornecedores: comprando a vista, realizando um único pedido, comprando em grande escala, antecipando valores para o fornecedor. Trabalhamos com Santana, Santanense e Canatiba, selecionando os produtos que melhor trazem custo x benefício. Queremos que o fornecedor também tenha poder de barganha para nos fornecer um produto de qualidade.
GJ: Como vocês se alinham às demandas por sustentabilidade atuais?
Irani Costa (CEO): Nos aviamentos, não usamos botões de ferro, apenas zamac. Nas nossas embalagens, usamos plástico biodegradável. Já fizemos toda uma coleção onde dentro das embalagens, incluímos sementes de Ipê amarelo. Na lavanderia temos a questão de terceirizar com empresas que respeitem o meio ambiente, como Benatextil, City Lav e Prolav que reciclam sua água ou aplicam outras estratégias em prol da natureza.
GJ: Qual a principal fonte de pesquisa e inspiração para a marca?
Iran Costa (estilista): Internet, redes sociais e tenho o projeto pessoal de buscar as inspirações em viagens que provenham referências étnicas. Trabalhamos com três coleções anuais de 40 peças cada sendo que os destaques – best-sellers de vendas, podem ser incluídos nesse ritmo. Da ideia para a peça pronta, levamos um tempo de cerca de quarenta dias.
GJ: Esse cuidado que a marca tem com os produtos, e visão de produzir um bem como se fosse um presente para alguém, de que forma esse pensamento é valorizado e comunicado para o consumidor?
Irani Costa (CEO): Essa valorização passa pela qualidade, bom preço, e o respeito. Durante todo o nosso percurso histórico nunca tivemos comentários ruins. É claro que erramos, mas quando isso acontece, colocamos a realidade, solucionamos os problemas e nossos clientes se transformam nos nossos amigos.
GJ: Pelo que vocês colocaram, a valorização da marca passa pela ampliação de público, e não pela elevação do preço. Em que estados vocês já estão presentes com a sua distribuição?
Gilson Oliveira: Cerca de 60% da nossa distribuição estão no norte e nordeste: Pará, Manaus, Bahia. A região Sul é a menos explorada.
GJ: Qual a peça mais forte da marca?
Iran (estilista): Sem dúvida o short jeans.
GJ: Nestes anos todos de empresa qual foi a maior dificuldade que vocês já enfrentaram?
Gilson Oliveira: Infelizmente é a falta de capacitação da mão de obra. Aqui no nordeste temos pouca mão de obra qualificada. Temos aquisições de máquinas modernas, que não usamos pois não encontramos profissionais aptos a operarem elas. Por isso, estamos caminhando para a terceirização. Constatamos que nosso maior patrimônio é o nome então vamos abrir mão da parte “braçal” do trabalho, mas nosso “cérebro” continuará aqui: estilo, modelista, pilotista.
GJ: E vocês já pesquisaram esses possíveis parceiros? Quais os cuidados que vocês vão tomar com essa etapa delicada, de terceirização, que também envolve o nome e a reputação da marca?
Irani Costa (CEO): Nós já terceirizamos uma boa parte da nossa produção, a maioria para facções do interior. Nosso cuidado é com o prazo, sempre buscamos companhias idôneas que consigam atingir as metas – claro deixamos uma margem de tempo para uma certa flexibilidade e negociação. Também temos muito cuidado com as questões trabalhistas: que os empregados estejam com carteira assinada, e que tenham todos os direitos em dia, e trabalhem em boas condições. Nós de fato fiscalizamos se esses pré-requisitos existem, queremos ver a carteira assinada de cada empregado.
GJ: E qual o próximo passo?
Gilson Oliveira: Queremos ampliar nossa distribuição investindo nos canais do e-commerce. Também estamos inaugurando um novo ponto de venda aqui perto, pois pensamos que o lojista que quer quantidade, busca grandes centros de compra. “Se você quer comprar muito, não vai a um supermercado, vai a um hipermercado”, esta é nossa visão.
Fonte: Vivian David | Fotos: Equipe Guia JeansWear