O que importa no mundo pós-pandemia dentro do mercado denim

Estamos vivendo tempos estranhos, incertos, desafiadores. Ansiosos por respostas rápidas, buscamos por uma luz no final do túnel, por palavras de acalento ou soluções que não deixem nossos negócios morrerem.

Ainda não temos respostas, porém, após mais de três meses em quarentena devido à pandemia do novo coronavírus, já percebemos novos comportamentos (ou antigos e que vêm se destacando nesse período) e que podem direcionar o mercado de moda. Um deles é a sustentabilidade, palavra-chave que já vinha permeando o mundo atual, mas que agora pede uma urgência onde voltamos os olhos ao meio ambiente, social, ao bem-estar da população. E, literalmente, tivemos que parar o mundo para realmente prestar atenção na loucura em que estávamos vivendo.

Trânsito, poluição, condições de trabalho inadequadas, um guarda-roupa repleto de roupas desnecessárias, mais tempo com a família, a importância que a vida realmente tem, a saudades dos amigos, dos encontros, dos abraços. Com certeza, algo vai ficar como ensinamento deste caos, nem que seja uma pequena mudança, um pensamento que pode ser modificado, um novo olhar para a moda, para as pessoas. Isto, é claro, sem romantizar e nem achar que vamos virar monges budistas de uma hora para outra;

Contudo, nunca mais seremos os mesmos, algo ficará marcado em nosso passado. Dentro desse contexto que chamam de “novo normal” – termo muitas vezes usado de forma errada, afinal, estávamos habitando um mundo realmente normal antes da pandemia? – como o consumidor atual vem se comportando? O que ele espera das empresas?

Lorena Botti, coolhunter da Vicunha

“Não sabemos o que vem pela frente, mas uma coisa é certa: os consumidores estão começando a se perguntar o que querem, se é essa nova realidade”, afirma Lorena Botti, coolhunter da Vicunha. Segundo a profissional, as pessoas querem consumir produtos com qualidade pois preferem investir em algo que seja durável, já que muitas perderam parte de suas rendas. Além disso, estão com mais tempo de se informar sobre o que adquirem e atentos a todos os processos de suas roupas e, exigindo também transparência na forma como cada marca comunica suas ações relacionadas à sustentabilidade.

“As diferentes soluções para o denim, relacionadas à sustentabilidade, tendem a ser mais compreendidas e valorizadas tanto pelos nossos clientes, quanto pelo consumidor final”, completou Lorena.

E para fazer essa informação chegar ao consumidor, Lorena acredita que é preciso ter uma aliança com todos os setores da cadeia e, a Vicunha já vem caminhando para contribuir com isso, buscando novas formas de se comunicar através de projetos, diferentes iniciativas e espaços para discussões como os webinars promovidos pela empresa.

“Temos esse papel, e apesar de estarmos posicionados no início da cadeia produtiva, sentimos que como indústria também temos essa missão de conscientizar e informar o consumidor”, comenta Lorena.

“Estamos nos preparando para sermos referência em consultoria no segmento jeanswear. Queremos compartilhar conhecimento para ajudar nossos clientes a vender mais e melhor”, afirma Marcel Imaizumi, diretor de operações da Vicunha.

Além disso, segundo Lorena, muito mais do que roupa a moda abrange outras questões como a valorização das pessoas, onde entram novas discussões sobre racismo, gêneros, quem e como empregamos, seguindo um mundo mais justo e igualitário.

“Todos nós queremos um mundo mais justo e igualitário e essa é uma grande oportunidade para a moda repensar isso, olhando para a sustentabilidade em toda sua abrangência. Moda é simbologia, ativismo…expressa muita coisa, por isso, cada vez mais é importante ter um propósito”, opina Lorena.

Tendências

Lorena Botti aponta algumas macrotendências que já vêm se desenhando e que prometem se intensificar nos próximos anos. São elas:

Glocal: A conexão do olhar para o mundo com a produção local, a valorização do produto nacional, do feito no Brasil, das peculiaridades de cada região e suas culturas riquíssimas, incentivando ainda o trabalho manual, as artes, a costura feita em casa, os processos mais lentos e com significado.

Conforto: Aqui engloba tanto fibras, construções e shapes quanto o conforto emocional em tecidos, cores e lavagens que funcionem para cada cliente, valorizando toque, mix de fios e stretch. Entram também a valorização das partes de cima, os tops, em um momento que promete se estender, onde muitas pessoas estão trabalhando em home office.

Cores: Calmantes, vibrantes e positivas, elas serão muito importantes para trazer peças desejáveis.

É importante ainda criar coleções mais assertivas, que possam contar uma história – apresentando de onde vem a matéria-prima e como é o processo de produção e acabamento.

Sustentabilidade na prática

A Vicunha, que está no mercado têxtil desde 1957, sempre teve sua trajetória pautada pela sustentabilidade, com foco na redução de impacto ambiental, menor utilização de água e de poluentes líquidos e gasosos e menor quantidade de matéria-prima virgem. Além disso, a empresa trabalha com projetos sociais nas comunidades com capacitação profissional e desenvolvimento social.

Já os selos de certificações são importantes também como uma ferramenta de comunicação para toda a cadeia de moda e para o consumidor que exige cada vez mais transparência do setor.

E falando em sustentabilidade, a Vicunha promoveu uma rica discussão no webinar “Sustentabilidade, Tecnologia e Eficiência no processo Criativo de Moda”, mediado por Fabio Felix, coordenador de lavanderia da Vicunha Têxtil. A transmissão reuniu os convidados Enrique Sillas, fundador da Jeanologia, Pedro Daminelli, gerente de sustentabilidade da Damyller, e Marcel Imaizumi, diretor de operações da Vicunha.

Enrique Sillas destacou o “Mission Zero”, que propõe como missão que até o ano de 2023, nenhum jeans seja produzido contaminando o planeta. E ser sustentável, segundo Enrique, não quer dizer ser mais caro. Para o fundador da Jeanologia, é preciso reduzir custos, simplificando processos, obtendo maior agilidade, produtos melhores e mais eficientes.

Segundo Lorena, a demanda por artigos sustentáveis vem aumentando e, principalmente produtos que se diferenciam por toque, elasticidade, conforto e fibras diferenciadas. O denim original também é importante em um momento que ao mesmo tempo procuramos nos apegar às coisas que nos remetam a um lugar seguro, nosso passado e a sensação de conforto psicológico, mas também ao produto autêntico, atemporal, que possa durar por muitas estações e não seja descartável, valorizando ainda mais o conceito de slow fashion, uma tendência que também vem ganhando muitos adeptos.

Lançamentos e a economia circular

Atualmente, o portfólio de produtos sustentáveis da Vicunha é sete vezes maior do que em 2014, ano em que foi criada a primeira linha totalmente dedicada aos artigos com menor impacto ambiental.

Os selos Eco Cycle – Less Water e Recycle foram criados para informar aos clientes sobre produtos que passam por técnicas que vão da economia de até 95% de água nos processos de acabamento à menor utilização de matéria-prima virgem, como o uso de fibras recicladas. Em 2018, ganhou destaque a linha V. Eco Absolut, com produtos que utilizam menos 95% de água e 90% de produtos químicos em seus processos.

A empresa utiliza algodão BCI e ABR e é parceira da Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão) no projeto Sou de Algodão. É importante frisar que o Brasil tem uma cadeia vertical, sustentável com irrigação natural através das chuvas nas plantações de algodão, além das certificações ambientais, processos inovadores em lavanderia e design criativo.

Mas e se, além da economia de água e químicos, este novo produto fosse 100% reciclado, aplicando o conceito de upcycling no reaproveitamento de fibras e fios? Seguindo os princípios da economia circular, a Vicunha lançou no ano passado o primeiro denim brasileiro feito com algodão 100% reciclado e, sem tingimento. São dois novos artigos produzidos em parceria com a Lenzing utilizando a tecnologia Refibra™ -feita a partir de 20% polpa de algodão reutilizado e 80% da polpa da madeira juntamente com algodão reciclado da Vicunha.

Pegada Hídrica e a Moda pela Água

Paralelamente à criação de produtos de menor impacto ambiental, surgem projetos e ações que promovem e discutem melhorias para integrar a sustentabilidade em toda a cadeia de moda, como por exemplo, a plataforma A Moda pela Água, criada pela ECOERA, que reúne especialistas sobre o assunto integrando os mercados de moda, beleza e design às melhores práticas socioambientais.

A iniciativa é um desdobramento do projeto pioneiro Pegada Hídrica Vicunha, que traçou um diagnóstico sobre o consumo de água na cadeia de moda brasileira do jeanswear através da metodologia global Water Footprint Network, com o objetivo de criar métricas para diminuir o impacto ambiental na indústria fashion e promover a transparência e união do setor em prol de uma gestão mais responsável dos recursos hídricos.

A Moda pela Água conecta empresas (produtores de algodão, tecelagem, lavanderias, confecções, magazines), consumidores e ONGs na busca por soluções para o desperdício da água em um espaço de interação entre esses públicos, de forma que todos se tornem “Guardiões da Água”.

Lavanderia

E como fica o papel da lavanderia em meio a todos esses processos?

Para Enrique Sillas, não basta ter maquinários, é preciso que as tecnologias estejam conectadas para um melhor resultado, rumo à lavanderia 5.0, como ele mesmo denomina. Outro ponto destacado pelo profissional foi a desconexão entre o tecido e a peça finalizada e como uma das causas citou a falta de empresas de jeans com processos verticais no Brasil.

A digitalização e todos seus recursos também contribuem para várias etapas – da produção até a venda ao consumidor final. Este é o novo momento do mercado: juntos (empresas e consumidores) caminham para a construção de um mundo melhor onde as futuras gerações possam desfrutar de uma moda mais consciente e justa.

Em meio a todas essas transformações em diferentes esferas no mundo, mais do que nunca a Vicunha segue lado a lado com o mercado oferecendo um produto nacional, com agilidade, simplicidade, tecnologia e sustentabilidade.

Fonte: Vanessa de Castro | Fotos: Divulgação / Vicunha