Planejar, compartilhar estratégias e conhecimentos, usar o tempo em quarentena para repensar o seu cliente e, principalmente como se manter no mercado pós-coronavírus. Estes foram alguns dos assuntos abordados no terceiro webinar promovido pela Denim City SP que trouxe o tema “Como o varejo lida com o momento e sugestões para a retomada”.
A discussão foi mediada por Maria José Orione, diretora acadêmica da Denim City SP, e Iolanda Wutzl, CEO do Guia JeansWear. Além disso, a transmissão contou com as presenças de Aretuza Temoteo, varejista das Lojas Aretuza, Gustavo Farah da GFN Gestão de Moda, empresa de representação comercial na área de moda, Josué Varella, proprietário da PoloWear e PlanetGirls, e Juliana Gama, diretora comercial do Mega Polo Moda.

Os participantes contaram como estão atravessando essa fase difícil e o que já estão colocando em prática para superar essa crise. Juliana Gama apontou que, logo após a paralização, sua equipe já começou a desenhar a melhor estratégia para se manter conectados com os clientes.
“Entendemos que deveríamos compartilhar nosso conhecimento, é hora de dar as mãos, de ouvir, confortar, servir nossos clientes”, comentou Juliana. “Esses 15 anos de operação foram dedicados a pensar em soluções, serviços relevantes para alavancar a cadeia. E hoje qual é o nosso propósito? Como podemos usar tudo isso a nosso favor?”, completou.
Para Juliana, o primeiro aprendizado foi entender que é possível encurtar distâncias e abraçar oportunidades. Seguindo nesse caminho, começaram o desenvolvimento de uma plataforma para conectar os lojistas e os clientes.
“Nesse momento, o Mega Polo entende que temos que nos portar como um veículo facilitador para gerar serviços, parcerias relevantes de fato. Não dá para pensar individualmente. Todos os elos precisam estar na mesma direção”, apontou.
De acordo com Josué Varella, todos estão com as mesmas dificuldades e a volta será para um novo mercado. “O quanto teremos que ser eficientes nesse retorno? Teremos que ser melhores do que somos agora”, disse.
O empresário acredita que é hora de investir em treinamento, capacitação, eleger os melhores colaboradores, se cercar de uma equipe produtiva, qualificada e engajada. Josué afirmou que vai precisar suspender o contrato de trabalho de algumas pessoas da equipe para que continuem operando e, que essa ação vai garantir o emprego dos colaboradores na volta.
Muitas empresas sabem que agora não é hora de vender, porém Josué entende que não podem sumir do subconsciente dos seus clientes, por isso a marca também precisa estar presente, engajar o consumidor. “Estamos consumindo menos, mas isso não quer dizer que não podemos falar de nossas marcas. Fazer uma boa lição de casa nesse momento significa operar de modo melhor”, apontou Josué Varella.
Aretuza que mantém lojas em Alagoas e Pernambuco afirma que os prazos fracionados para a paralização prejudicam o planejamento da varejista que começou a pensar agora nas vendas online, organização de estoque, além de lançamentos de coleções atemporais, mais sustentáveis e duráveis.
Aretuza, que é cliente do Mega Polo há dez anos, está treinando suas equipes para se reinventar através da Internet. “Temos que entender a necessidade das clientes. Elas não querem comprar agora. Festas, shows, casamentos foram cancelados e as pessoas procuravam muitas opções para esses eventos”, comenta a varejista, que ainda complementa que lançaria seu Outono-Inverno agora em abril com coquetel e presenças de blogueiras, contudo irá trabalhar com mini lançamentos de coleções cápsulas através das mídias sociais.
Gustavo se diz preocupado com o pequeno lojista. “A gente trabalha com um lojista que está vendendo o almoço para pagar a janta e isso vinha caminhando há um bom tempo. Esse ano seria de respiro, de crescimento. Acho que teremos que voltar para trás, voltar os olhos para o seu negócio. A parte mais doída serão as demissões, mas vamos ter que redimensionar isso, elas serão inevitáveis”, comentou.
O empresário apontou que existem lojistas que não têm consciência do seu estoque, do que vende mais ou não. Isso precisa ser repensado. Ele tem optado por treinamentos para sua equipe e para os lojistas para entender individualmente cada cliente. “Muita gente fazendo lives (transmissões ao vivo), vídeo, apresentando soluções mirabolantes e caras, mas isso não funciona para alguns”, ressaltou.
Segundo Gustavo, vamos viver a maior liquidação da história e, por isso, vai se sai melhor quem chegar na frente. Ele estima que isso irá acontecer em julho e esta é exatamente a grande oportunidade dessa tragédia – o ajuste de saldos e lançamentos porque o mercado estava impondo um ritmo e o varejo não estava acompanhando.
Aretuza concordou com o descompasso dos lançamentos. “Em dezembro já estavam começando a lançar o Inverno e aqui a gente começa a comprar somente em março. Seria ótimo se o calendário dos fornecedores acompanhasse o mesmo momento”, disse.
Olhar para dentro de seu negócio
Muitos lojistas de pequenas cidades não vão ficar “online” imediatamente. “Não sou contra plataforma online só que acredito que antes de você partir para isso precisa fazer o básico. Antes de comer caviar, precisa comer o arroz com o feijão. Eles precisam se profissionalizar, muitos não têm capital de giro para aguentar dois meses sem funcionamento”, comentou Gustavo.
Por isso, é necessário obter prazos maiores que beneficiem toda a cadeia. É essencial negociar com seus fornecedores, reduzir custos ao máximo, avaliar estoque e rever impostos.
Josué acrescenta que o varejista precisa olhar para dentro do seu negócio analisando desde os manequins, passando pelo visual merchandising, atendimento, provadores e produtos. “Se fizermos as mesmas coisas, teremos os mesmos resultados. Temos que pensar diferente”, afirmou.
Maria José pontua que é importante ser profissional, separar a pessoas física da jurídica e com isso ter uma gestão mais profissionalizada. Já para Iolanda o medo de saber se vai sobreviver prevalece entre todos, por isso é necessário pensar em todas as medidas que vão ser tomadas para sobreviver a essa guerra invisível. A CEO afirma que o varejo já está se reinventando de olho no cliente que quer algo além do produto, como uma experiência em loja.
No varejo há 30 anos, Josué Varella apontou que boa parte das marcas ainda está sob domínio de outra geração e, que agora essa geração começa a entender as mudanças. “As marcas precisam oferecer consultoria, engajar o consumidor, oferecer experiências no ponto de venda. O mercado mudou, os varejistas também precisam mudar”, pontuou.
Enquanto isso, Juliana Gama acredita que ninguém voltará igual, por isso é hora de repensar cada etapa do processo e, para isso a tecnologia vai cumprir papel fundamental para conhecer ainda mais os clientes. “Agora é a hora de fazer a diferença. Invista nas pessoas, nos treinamentos, olhe para a sua empresa, veja o que está dando certo e compartilhe essas informações”, ressaltou.
Para a retomada pós-crise, Juliana destaca planos de marketing para reformular o que já vem sendo realizado como os lançamentos presenciais. “Por ora, o Mega Polo vai investir no treinamento de pessoas para a realização de consultorias e curadorias de marcas para cada cliente. E a nova plataforma onde lojistas e clientes estarão em contato em um único canal”, afirmou.
Neste sentido, Iolanda pontou que é o momento de investir em peças para o home office onde estão surgindo novas necessidades, estendendo o mix de produtos.
Gustavo afirma que os lojistas não podem se dar ao luxo de ficar parados, por isso é hora de se aproximar dos fornecedores, representantes, marcas, realizando negociações e voltar a fazer o varejo de fato. Precisamos sair da inércia porque é necessário correr. Em tempos de crise a concorrência torna-se ainda mais acirrada e quem não souber o que realmente está realizando, vai ficar para trás.
Para conferir o webinar na íntegra, clique aqui.
Fonte: Vanessa de Castro | Foto: Reprodução