A importância da economia criativa para moda na Brasil Eco Fashion Week

A 4ª edição do Brasil Eco Fashion Week, que teve início nesta quarta-feira, apresentou como painel de abertura o tema “Economia Criativa como estratégia de desenvolvimento sustentável”. A palestra foi apresentada por Cláudia Sousa Leitão, especialista no assunto, já trabalhou na Organização Mundial do Comércio (OMC) e na Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD-ONU), com mediação de Amélia Malheiros, gestora da Fundação Hermann Hering.

O tema, segundo Cláudia, ainda é pouco conhecido e jovem no mundo – foi criado há 30 anos. Porém, torna-se essencial voltar os olhos para o assunto, principalmente nesse ano, onde precisamos refazer diferentes maneiras de viver, como o surgimento de novos empreendedores que terão que se profissionalizar e seguir no desenvolvimento sustentável. E o Brasil tem um potencial gigantesco no caminho da economia criativa, porém, exportamos somente commodities – matérias-primas como soja, minério, laranja…

“Queremos produzir uma moda autoral, com a cara do Brasil, territorial, que reflita nossa diversidade. Ou iremos continuar consumindo o que vem de fora? Somos consumidores passivos(…) É necessário reconhecer nossas identidades, riquezas do país”, afirma Cláudia.

Para se ter uma ideia da importância da Economia Criativa, Cláudia destaca que com o avanço da tecnologia e da Indústria 4.0, as atividades mecânicas e a economia tradicional vão desaparecer e os empregos mais criativos sobreviverão. Segundo estimativas, a economia criativa vai crescer 4,2% até 2021.

O século 21 trouxe a economia do intangível, além disso, é importante ressaltar que nos países ocidentais os jovens terão muito mais mudanças de empregos ao longo de sua carreira. “É o século do empreendedorismo, dos pequenos negócios”, comenta Cláudia.

Além disso, ao mesmo tempo que o digital cresceu numa velocidade absurda ampliando o acesso à informação trouxe também uma concorrência pela atenção dos consumidores. Segundo estudos, “a concentração no contato com um novo conteúdo digital dura, hoje, 8 segundos”. Como chamar atenção de seu consumidor?

Segundo Cláudia, para entender sobre economia criativa é preciso responder algumas perguntas. São elas:

• Que criatividade para qual desenvolvimento?
• Qual é o espaço da criatividade para a construção da cidadania?
• De que Economia Criativa estamos falando?
• De que empreendimentos criativos estamos falando?
• Como medir a contribuição da Economia Criativa? Por meio de quais indicadores?
•Esses empreendimentos seriam capazes de realizar um contraponto ao modelo hegemônico das indústrias Criativas?
• Que habilidades e competências são necessárias aos empreendedores que trabalham com a Economia Circular?

“É importante entender que quem trabalha com moda não trabalha somente com moda, mas também com outros setores da economia criativa […] economia criativa não é o mesmo que indústria criativa, a economia é dos pequenos e a indústria é dos grandes”, afirma Cláudia que cita como exemplo a Zara que fere os direitos humanos de seus colaboradores.

“Quando você compra um produto da Zara, você está comprando a insustentabilidade de uma economia da moda e é preciso que você tenha consciência disso”, ressalta. “ É preciso apoiar os pequenos, os autorais, aqueles que não têm condição de abrir grandes espaços. É um jogo muito injusto, cruel, entre os grandes e os pequenos”.

Cláudia Sousa Leitão ainda apontou que um empreendedor criativo precisa “beber” na diversidade cultural, além de investir na inovação, sustentabilidade e inclusão social.

Desafios da Economia Criativa

Ainda existem muitos desafios para seguir nesse caminho como a falta de incentivo por parte do governo, mais informações sobre as capitais e municípios, infraestrutura e cursos para profissionalização dos empreendedores.

Cláudia destaca algumas cidades pelo mundo que mantém projetos de bairros criativos que reúnem pesquisa, desenvolvimento e inovação, negócios, infraestrutura, áreas verdes, mobilidade e acessibilidade, habitação popular, patrimônio histórico e a revitalização de espaços públicos, abrangendo vários setores. “A economia criativa atravessa vários setores, ela é transversal, é um conceito em evolução”, comenta Cláudia.

“O Brasil pode ser o maior exportador de moda e design do mundo. Temos potencial para isso […] Quanto mais negócios criativos, melhor para a diversidade brasileira, melhor para a nossa sustentabilidade”, concluiu.

Vale destacar que o Brasil Eco Fashion Week segue de maneira online, com a painéis realizados até 22 de novembro e desfiles de 17 marcas de todo país, que acontecem de 26 a 28 de novembro – confira a programação completa.

Confira o painel na íntegra:

 

Fonte: Vanessa de Castro | Fotos: Reprodução