O “Denim Desejo é o Denim com Valor” e, não estamos, somente falando de dinheiro, que é claro, valoriza ainda mais o produto, mas falamos do denim que segue o começo de sua história, lá no início de 1900 onde era totalmente natural, sem aditivos químicos e nem tecido sintético. Já imaginou uma peça jeanswear ser totalmente produzida de acordo com as diretrizes sustentáveis e ainda com aspecto vintage? Desde a construção do tecido, passando pelo tingimento e até a linha que irá costurar esse produto? Sim, isso é possível nos dias atuais através da marca BUAISOU, criada em 2012, sob o comando de Kakuo Kaji, artesão de tingimento e artista do índigo.
O profissional esteve recentemente no Brasil, através da Japan House São Paulo, em comemoração aos 130 anos do Tratado de Amizade Brasil-Japão, com oficinas gratuitas em parceria com o Sesc 24 de maio. O coletivo de artesãos japoneses que trabalham na marca, se dedica à cultura, processamento e tingimento com o índigo. A planta é utilizada em tingimentos de tecidos na cor azul numa técnica chamada “aizome” que proporciona diferentes tonalidades de azul através de processos naturais e sustentáveis.
“Da mesma forma que queremos comer algo orgânico, também queremos usar algo sem produtos químicos. Essa é a lógica”, comenta Kakuo Kaji. Para o artesão, que passa horas nas plantações do índigo, essa é a forma criativa de produzir o seu jeans, valorizando os produtos naturais, também na moda. Tudo volta para a natureza. A tina de tinta quando perde a força é descartada na terra, pois é um produto biodegradável e de solução alcalina e pode ser reciclado produzindo papel, linha, tecido…..A marca quase não gera lixo.
BUAISOU é uma marca de moda e um dos poucos coletivos a manter viva essa tradição milenar da região de Tokushima, a 600 quilômetros de Tóquio. Em seu ateliê, os artesãos cuidam de todos os processos, desde a semeadura do índigo até o tingimento das roupas. Há uma equipe de parceiros que confeccionam as peças, que são feitas sob medida e, demoram 3 meses para serem entregues. O valor gira em torno de 2 mil dólares. A marca já realizou collabs com grandes empresas como Uniqlo, Tory Burch, New Balance, Disney e Mizuno e vende para o Japão, Estados Unidos e até aqui no Brasil.
“A maior parte das pessoas que produz jeans, hoje, busca inspiração nas décadas de 40, 50, mas nós buscamos referências lá no comecinho, quando o índigo era natural. Cada peça é diferente, uma da outra, leva tempo e, por isso custa mais caro. É uma outra maneira de ver o jeans em peças que são valorizadas”, diz Kakuo que no dia do workshop estava com uma calça jeans que usa na roça, estava rasgada e foi customizada por ele com remendos. Mais vintage e natural, impossível.
Nascido em Aomori, Kakuo, aprendeu sobre design têxtil no curso de Design Têxtil na Universidade Zokei de Tóquio e durante sua graduação conheceu o tingimento natural. Depois de se formar, ele se juntou a uma equipe de voluntários de revitalização regional da província de Tokushima para conhecer o índigo. Lá ele aprendeu as técnicas básicas, desde o cultivo até a produção do sukumo (corante) do índigo, e foi expandindo seus conhecimentos criativos de forma autodidata.
“Trouxemos o coletivo BUAISOU para realizar uma série de oficinas sobre o tingimento com índigo japonês como parte das atividades paralelas da exposição “Princípios Japoneses: design e recursos”, que está em cartaz até Abril na JHSP. Essas oficinas práticas também foram uma forma de celebrarmos os 130 anos do Tratado de Amizade entre Brasil e Japão, dividindo os saberes do tingimento vegetal japonês com o público brasileiro, em uma iniciativa tão admirável que leva em consideração o impacto da produção do índigo e das tinturas na natureza, além da beleza dos tons azuis obtidos,”, comenta Natasha Barzaghi Geenen, Diretora Cultural da Japan House São Paulo.
Marlene Fernandes, co-fundadora do Guia Jeanswear, participou da oficina de “Tingimento com índigo japonês e “katazome” (uma pasta de arroz e estêncil para criar desenhos no tecido) e, ficou encantada com o conhecimento e a técnica de Kakuo Kaji. “A experiência foi muito além do tingimento natural com índigo, foi uma terapia do denim, mergulhamos no propósito, estratégias e negócios sustentáveis que surgem a partir dessa arte milenar. Um verdadeiro mergulho de inspiração para estilistas, CEOs e profissionais do denim que buscam inovação e diferenciação no mercado”, afirma Marlene. E continua: “Uma vivência única que mostra como tradição e sustentabilidade podem transformar o mundo da moda”.
Fonte: Vanessa de Castro | Foto: Divulgação