Será que a recente decisão do governo indiano de suspender as exportações de algodão, terá grave repercussão para os fabricantes de vestuário em todo o mundo? A resposta, ao que parece, é: sim e não.
Sim, no sentido em que a medida, tomada numa tentativa de conter o aumento dos custos e inverter a escassez de fios de algodão para as empresas indianas, pode afetar o segundo maior produtor do mercado internacional, se a proibição se arrastar para até próxima colheita.
Não, se pensar que o algodão representa uma parte relativamente pequena do custo total de uma peça de vestuário e é apenas uma entre as várias matérias-primas sujeitas a flutuações, que a indústria está neste momento acompanhando com atenção.
No final de Abril, o Presidente Executivo da Timberland, Jeffrey Swartz, apontou aos analistas que a pressão obre os custos de entrada, como couro e transporte, bem como os custos do trabalho na China vão provavelmente ter um impacto na empresa na segunda metade de 2010. E um porta-voz da Marks & Spencer revelou que, apesar de não ter planos para alterar os seus preços de vestuário em resposta í proibição do algodão da índia, não sabe ainda de seus planos para futuros aumentos: é claro que nenhum comerciante sabe o que o futuro reserva para os preços das matérias-primas, afirma.
Efetivamente, durante os últimos dois anos, as empresas têxteis e de vestuário tiveram que enfrentar problemas que vão desde a inflação e recessão internacional, até í escassez de trabalhadores chineses, subida nos preços do petróleo e o caos nos mercados cambiais. E é muito provável que um conjunto similar de desafios no aprovisionamento também esteja presente durante o próximo ano ou seguintes. Mas, em comum com todos estes parí¢metros em mudança, a maior preocupação para a indústria têxtil e de vestuário é a incerteza que trazem, sobretudo quando as encomendas e os contratos são negociados com meses de antecedência.
A subida dos preços mundiais do algodão e uma corrida para encontrar novas fontes de fibras são dois cenários possíveis que estão sendo ignorados. Mas, de acordo com Mike Flanagan, Presidente Executivo da Clothesource, nenhuma destas ações ocorreu ainda como resultado direto da proibição de algodão da índia, pois, a maioria da atual colheita do País já foi exportada ou vendida para indústrias indianas.
Flanagan também aponta que os preços mundiais do algodão estão atualmente cerca de 80% mais altos do que em Março de 2009, em que se situavam perto do nível mais baixo dos últimos 40 anos.
Em vez disso, o aspecto mais preocupante da suspensão das exportações de algodão indiano é o seu calendário e a preocupação por ninguém saber ainda quanto tempo pode durar. Mesmo antes do Governo da índia tomar a sua decisão, o Departamento de Agricultura dos EUA previa que a produção mundial no ano que termina em Julho seja 5% inferior em relação ao ano anterior, com 101,7 milhões de fardos.
A maior parte do declínio da produção mundial de 2009-10 resultará da queda da produção nos principais países exportadores de algodão, como a China, EUA, Uzbequistão e Zona Franca Africana, o que significa que será difícil compensar o déficit indiano.
A agência também espera que o consumo mundial de algodão seja quase 6% maior que em 2008-09, quando a desaceleração econí´mica levou a uma queda de 10% na utilização da fibra pela indústria mundial, com a China ocupando mais da metade dos 6,3 milhões de fardos extra de algodão consumidos nos mesmos anos.
Estes estoques estariam mais baixos também porque tendem serem acompanhados pela crescente procura, e preços, í medida que a aceleração da recuperação da economia mundial impulsiona a procura pelos artigos têxteis. O preço da recuperação econí´mica é o crescimento da procura de algodão, que promove o aumento nos preços desta matéria-prima tão essencial.
PORTUGAL TíXTIL | FOTO: EQUIPE GUIA JEANSWEAR