Você já ouviu falar da Célula Preta? Trata-se de um coletivo de estilistas participantes da Casa de Criadores que surgiu recentemente, com o objetivo de dar visibilidade coletiva a todos os membros e pensar formas de incluir, valorizar e visibilizar outros profissionais pretos dentro e fora da estrutura do evento.
Fazem parte da Célula Preta: Rafael Silverio, Jal Vieira, Diego Gama, Theo Alexandre, da Thear, Gui Amorim, do Estúdio Traça, Weider Silverio, Pedro e Hisan, da Dendezeiro, e Fabio Costa, da NotEqual. O Guia JeansWear conversou com os integrantes para saber mais sobre esse projeto, confira abaixo:

Guia JeansWear: Como surgiu a ideia de criar a Célula Preta? Quem foi responsável pela ideia?
Célula Preta: A partir do incômodo do Rafael Silvério (Silvério). Após atos políticos e a intensificação dos protestos antirracistas, foi proposto uma chamada aos estilistas pretos dentro do grupo de WhatsApp da CDC. A primeira a se levantar foi Jal Vieira (Jal Vieira), a estilista é a única mulher do grupo, e logo se chegaram, Diego Gama (diegogama), Theo (Thear), Gui Amorim (Estúdio Traça), Weider Silveiro (Weider Silverio), Pedro e Hisan (Dendezeiro) e Fábio Costa (NotEqual).
Logo após houve uma reunião na qual foram discutidas as dores e dificuldades de serem marcas independentes e enfrentarem o racismo de forma concreta todos os dias. Este diálogo perdurou por alguns dias, culminando então em uma célula independente, respaldado pelo diretor criativo do evento, André Hidalgo.
GJ: Há a intenção de abrir para outros estilistas?
CP: A curto prazo não, porém nossas intersecções serão feitas nas ações de criar um banco de dados e de dar visibilidade ao trabalho de outros profissionais pretos, abrindo escutas com outros profissionais que possam ajudar a expandir a nossa mente de traçar metodologias de inclusões, abrindo espaço dentro da indústria para que eles tenham a voz ouvida e que tenhamos um ambiente diverso.
Ao longo prazo, é da vontade do coletivo criar conteúdos, direção criativa, artigos científicos, produzir uma moda inclusiva e criar projetos que beneficiem socialmente e financeiramente a população preta.
GJ: Qual o principal propósito do grupo?
CP: Dar visibilidade coletiva a todos os membros, e pensar formas de incluir, valorizar e visibilizar outros profissionais pretos dentro e fora da estrutura do evento. Através de uma maior interação entre os participantes pretos, o grupo visa desmistificar conceitos racistas presentes no universo da moda, abrindo espaço para uma pluralidade racial dentro da área. Garantir representatividade, local de fala, visibilidade e equidade, são as principais frentes de luta do grupo.
GJ: Quais ações já estão sendo realizadas?
CP: Começaremos com os contatos imediatos de cada um, estender aos contatos desses contatos e criar um banco de profissionais que visa ampliar a visibilidade deles no mercado e estimular novas conexões entres os próprios. Estamos em reuniões e diálogos com instituições que estão interessadas em criar movimentações no mundo na moda de forma mais inclusiva. A Célula tem prestado inicialmente serviço de consultoria com algumas instituições sobre racismo e mídia no mundo da moda.
GJ: E os projetos para o futuro?
CP: A longo prazo, queremos que a Célula se solidifique como uma plataforma de inclusão e desenvolvimento de profissionais pretos em toda a cadeia da moda. Que consigamos criar uma rede, desenvolver projetos e ações que permitam uma entrada efetiva desses profissionais nessa indústria que sempre se beneficiou de nossa imagem, mas que tem tanta dificuldade em reconhecer nosso trabalho.
Temos um desafio imediato que é pensar essas questões dentro da Casa de Criadores e entender como preparamos o terreno, não só para nossas marcas, mas pra futuras marcas pretas que entrarem no evento. Mas nossa intenção é maior do que o evento em si, queremos e precisamos trazer reconhecimento, visibilidade e principalmente conseguir gerar trabalho.
GJ: Dentro do coletivo, existe alguma marca que trabalha com o jeanswear?
CP: O trabalho de Gui Amorim do Estúdio Traça é todo voltado para esse segmento e o Theo, da Thear, também manuseia com brilhantismo a matéria.
GJ: Vocês estão tendo algum apoio de empresas ou instituições neste projeto?
CP: Até o presente momento não. Porém, é de ciência e de vontade coletiva que tenhamos apoio e respaldo da indústria ou até mesmo de marcas a nosso favor, como apoiadores.
GJ: Na opinião de vocês, qual o futuro da moda?
CP: Esquecer conceitos elitistas na qual foi fundada adotando uma postura mais inclusiva e menos burguesa indo além de uma atitude de “ajuda”, uma questão de reparação da história, onde criadores pretos sempre ficaram pra trás de uma forma deliberada. Promover discussões é essencial não só para este momento de tensão, mas a indústria precisa se fazer responsável por fomentar oportunidades para que pretos possam ocupar também os espaços de destaque nas empresas.
Abrindo mais espaço para criadores pretos, investindo em pesquisa de novos talentos pretos e a cobrança em cima da pluralização dos castings das marcas. A mídia e a moda precisam ser aliadas na luta antirracista, gerando mais espaço e oportunidade para pessoas pretas espalhadas por todo país. Fazendo dessa conduta um hábito social.
Serviço
Acesse o perfil dos estilistas da Célula Preta no Instagram: @dendezeiro, @y.diegogama, @estudiotraca, @jalvieirabrand, @notequal, @silveriobrand, @thearvestuario e @weidersilveiro.
Fonte: Vanessa de Castro | Fotos: Reprodução