Especialista no desenvolvimento de acabamentos em lavanderia da Jeanologia- empresa responsável por desenvolvimento de maquinário de laser e ozônio para lavanderias – o espanhol Enrique Silla esteve presente em São Paulo para a apresentação da exposição Truth & Light, viabilizada no showroom da Vicunha na segunda semana de novembro.
Silla conversou com o Guia JeansWear sobre a produção de jeans vintage, tecnologia e o cenário jeanswear brasileiro. Confira abaixo o bate papo:
Guia Jeanswear – É possível desenvolver um jeans vintage sem o uso da água?
Enrique Silla – Hoje para se fazer um vintage autêntico necessita-se de 70 litros de água. Agora, com as novas técnicas de lavanderia, é possível desenvolver denim vintage com menos de 10 litros de água. Ainda não é possível fazer todo o processo water free, mas podemos reduzir a quantidade de água em 80%.
GJ Mas já é uma redução bem considerável…
ES – Se todos os jeans fossem fabricados com as novas técnicas, a água que economizaríamos seria suficiente para abastecer toda a cidade de São Paulo durante um ano. Por isso estamos falando de uma redução muito importante.
GJ – Qual a importância do tecido para o resultado de uma peça vintage?
ES – O denim é sempre o conjunto de tecido + lavagens, por isso sempre o tecido ajuda. Porém, para fazer um vintage, a chave não está no artigo, mas sim no acabamento final. Está na união de tecnologias como o laser à sensibilidade do designer de lavanderia: para fazer um vintage tem que haver a parceria entre arte e tecnologia.
GJ As lavanderias brasileiras estão no caminho para desenvolver bons jeans?
ES – Eu creio que sim. O Brasil tem um pequeno problema: existem inúmeras lavanderias muito pequenas, e o futuro destas lavanderias poderá ser comprometido, afinal necessitarão de menos mão de obra e mais capital (para a compra de maquinários e tecnologia). Isto significa que a dimensão das lavanderias será importante, e segundo dados de mercado, haveria cerca de duas mil lavanderias de pequeno porte no Brasil. Porém, acredito que os grandes grupos brasileiros realmente estão no caminho da tecnologia.
GJ Em sua opinião, quais marcas do mercado de jeanswear internacional produzem vintage autêntico?
ES – Existem marcas muito conhecidas como a G-Star, Pepe Jeans, Edwin… a Tommy Hilfiger, na Europa, também está fazendo um trabalho excepcional. Os mercados japonês, europeu e americano estão sempre focados no vintage autêntico, já o mercado brasileiro é mais voltado a trabalhar a moda.
GJ O vintage é comercial?
ES – O vintage é sempre vendável, seja na Europa, no Brasil ou em qualquer parte, porque ele representa o espírito. Se perguntarmos a um consumidor brasileiro quais são seus jeans favoritos, com certeza são os que têm em sua casa, usados há mais de cinco anos isto é um vintage, afinal as transformações de fit e lavagens foram produzidas de forma natural. Portanto, o vintage é sempre o produto mais vendido. Mas, não podemos esquecer que o jeans também é moda, e por isso o segmento tem que apresentar novidades todos os anos.
GJ E quais são as novidades do setor?
ES – Creio que o que há de destaque seja o tailoring denim (alfaiataria em jeans), que consiste em imitar os efeitos das tramas de outros tecidos planos e transferir ao jeans. Há também um tema muito importante no jeanswear, que no ano que vem verão no Brasil, que é a reprodução da pele animal traduzida ao denim através da tecnologia laser, e também a radiografia, que permite estampar fotos em qualquer artigo jeans.
GJ Como funciona a parceria da Jeanlogia com François Girbaud?
ES – François Girbaud é simplesmente um missionário. É um homem que está unindo criatividade e tecnologia, que está tentando juntar em um mesmo grupo os fashionistas e os técnicos, e nós temos uma colaboração com François Girbaud igual a que temos com outras marcas no mundo como Levis e G-Star, em que introduzimos novas tecnologias.
GJ Com quais outras marcas a Jeanlogia trabalha?
ES – Estamos localizados em Valença (Espanha) e praticamente toda semana atendemos a duas ou três grifes. Trabalhamos muito com a Abercrombie & Fitch, com a Tommy Hilfiger, Pepe Jeans, American Eagle, Edwin… Trabalhamos com muitas marcas grandes do mundo. Mas sempre atrás do melhor e atentos que não somos os protagonistas, e sim os que possibilitam a tecnologia para que os estilistas possam produzir de uma forma eficiente.