Mario Queiroz apresentou nessa semana o curso “Direções Moda Masculina 2022/2023” onde reuniu uma rica pesquisa sobre as coleções da 101ª Pitti Uomo e Semanas de Moda de Milão e Paris que aconteceram no último mês de janeiro.
O Guia JeansWear conversou com o multifacetado – designer, comunicólogo e empresário – para saber mais sobre esse rico universo que vem se transformando rapidamente, de acordo com os anseios do novo público e com mudanças significativas. Confira a entrevista completa:
Guia JeansWear: Como surgiu a ideia do curso?
Mário Querioz: Estou envolvido com a Moda Masculina como designer, pesquisador, consultor e escritor de dois livros sobre o tema. Sempre acompanho os grandes eventos internacionais e pesquisei em janeiro dezenas de coleções da Pitti Uomo e Semanas de Moda de Milão e Paris. “Direções de Moda Masculina 2022/2023” surgiu para contribuir na atualização e reflexão daqueles que fazem esse Mercado girar no Brasil num momento de tantos desafios.
Empresários, gerentes de produto, gerentes comerciais também precisam ter interesse pelas informações de moda: todas as possibilidades de Estudo levam ao crescimento do setor. A pesquisa trouxe minha visão ampla porque reúne práticas e posicionamento crítico, e neste sentido minha formação acadêmica ajuda muito.
GJ: Quais são os outros cursos que já ministrou?
MQ: Penso que compartilhar é tão importante quanto pesquisar, e faço isto há bastante tempo: sempre buscando decifrar o que está por trás das imagens e dos produtos numa linguagem acessível que chegue tanto ao ambiente universitário como das empresas. Durante cinco anos me dediquei a um grande evento sobre masculinidades, o Homem Brasileiro, que reuniu grandes cabeças. No final do ano tive vontade de algo voltado para os setores da Moda e como os encontros online passaram a ter um papel importante fui pelo formato da apresentação de hoje. Acho formidável exercitar a objetividade e ter num ambiente digital pessoas de diferentes estados e até convidados internacionais.
GJ: E já tem algum previsto após esse?
MQ: Estou te respondendo logo após ter realizado o “Direções”, então, estou sob o impacto da realização e da alegria dos comentários favoráveis, o que me inspira a outras realizações em breve, além de participar de eventos em que sou convidado a contribuir. Entre os novos planos está o de continuar a divulgar o livro “Homens e Moda no Século XX” que traz questões tão relevantes e contemporâneas.
GJ: O que o mercado de moda masculina anseia atualmente?
MQ: Posso te responder de duas formas: pela visão das marcas e dos consumidores. Falando do Brasil: vejo que os homens estão decepcionados pelas poucas ofertas do mercado porque as empresas em sua grande maioria são conservadoras e não param para pensar nas novas necessidades e vontades de seus clientes.
Enquanto outros países oferecem muitas novidades pensando em diversos clientes (e não podemos esquecer da posição de vanguarda do Oriente) é bem frustrante ver vitrines de lojas masculinas em shoppings brasileiros por ser muito difícil encontrar novidades. O que salva é o e-commerce que abriu possibilidades de acesso a designers (de todos o mundo) e facilitou o acesso às grifes estrangeiras cheias de inovação para o guarda-roupa masculino.
GJ: Quais as principais mudanças que aconteceram nos últimos anos?
MQ: Ninguém quer mais a companhia de homens sem algum gosto pela Moda: nem as mulheres e nem as empresas. Nesse momento em que temas como “sem gênero” e “empoderamento feminino” estão na pauta da sociedade não há como manter a mesma ideia de masculinidade associada ao machismo. A moda tem um papel importante na difusão de novos comportamentos masculinos.
O mercado de beleza já entendeu isso há mais tempo, basta vermos os números de produtos voltados para pele/cabelo/barba. Não existe mais um estilo masculino, hoje são vários: desde o homem mais sóbrio até o fashionista, e entre eles diversas combinações voltadas a individualidade: a imagem transmitindo estilos únicos.
GJ: E o que esperar do futuro?
MQ: Minha pesquisa foi sobre um futuro que é 2022 e 2023, pensar além é suposição. As Semanas de Moda de Milão e Paris foram surpreendentes porque cada marca trouxe propostas diferentes. Veja o jeans que voltou à passarela, não o five pockets básico mas diversas modelagens e tipos de denim, e principalmente com o retorno forte dos laboratórios das lavanderias. Os clientes querem ser surpreendidos, e as marcas que fazem a diferença sabem que nesse momento só vende quem apresenta novas e propostas exclusivas.
Com tantos desafios e dificuldades ninguém vai gastar com o que já tem em casa, não é mesmo?
Fonte: Vanessa de Castro | Foto: Reprodução