O desafio da transparência no segmento JeansWear

Humanização no chão de fábrica: é possível? Na contagem regressiva para o Fashion Revolution, que desde o ano de 2014 é celebrado no dia 24 de abril, realizamos uma pesquisa no mercado JeansWear brasileiro, para identificar quem está conseguindo apresentar suas coleções preenchendo essa, que talvez seja a mais difícil exigência a ser atendida nos caminhos para uma moda sustentável e com propósito.

Comunicar ao consumidor a procedência de uma calça jeans – desde a fibra até o fechamento na linha de produção é um grande desafio. A maioria das marcas que ingressa nesse caminho aborda parcialmente essa interpretação – incluindo composição ou procedência de matérias primas; ou expondo apenas um recorte do seu modo de produção. Conciliar os dois mundos: materiais e pessoas – no conceito mais radical de transparência – esse é o obstáculo maior.

No ano passado, a Malwee, companhia que figurou entre as melhores pontuadas no índice de transparência na moda, celebrou o Fashion Revolution publicando em sua própria página os nomes das pessoas envolvidas no desenvolvimento das peças. Eu cortei, eu dobrei, eu costurei suas roupas. Com essa introdução, um pouco da história de vida de alguns profissionais envolvidos na manufatura das roupas vendidas pela companhia, foram divulgados.

No mercado mundial, a única referência de uma empresa de grande porte que conseguiu alcançar esse nível de transparência é a Everlane. A marca americana, que vende exclusivamente online, é frequentemente citada como uma das top marcas mais importantes deste tema. No site, é possível visualizar a localização geográfica de cada fábrica onde se fecham as roupas, fotos, e uma síntese de como são produzidas as roupas. A marca também divulga em gráficos o custo real e o lucro de cada peça que está à venda. Também a Mud Jeans, que além de trabalhar economia circular pelo sistema de arrendamento das suas peças, confere visibilidade ao seu modo produtivo em todas as etapas na página da marca, e também divulga o local onde as mesmas são fechadas, com vídeos dos profissionais envolvidos no processo.

No Rio Grande do Sul, existe uma nova geração de criadores de moda empreendendo pequenos negócios, fundamentados no conceito de sustentabilidade associado ao sentido de slow fashion. Seguindo esse pensamento, emergem algumas marcas pequenas, produzindo coleções com poucas referências, com um controle maior da sua produção, deixando toda a ficha técnica visível para consulta: desde o insumo usado até a pessoa que costurou o modelo. Entre os exemplos temos a marca Porto Alegrense Envido, que além de usar denim diferenciado pela composição 70% algodão reciclado e 30% garrafa pet, na loja virtual apresenta junto a cada um dos seus modelos, uma resenha e foto da profissional que o confeccionou.

Ainda falando de marcas nacionais, temos a Think Blue, marca carioca de Upcycle que deixa bem claro em seu portal, como realiza a coleta dos seus insumos – jeans descartados – em igrejas ou por doações. A marca também apresenta a equipe responsável pela transformação das mesmas – desde o modelista, até o alfaiate e os profissionais envolvidos no marketing em sua home page. Cada roupa leva no tag, a informação de quem a produziu.

Não há como negar que a prática da transparência, se torna mais viável quando a produção é pequena. Quanto maior a capacidade produtiva, maiores e mais numerosos são os fatores que devem ser mensurados e controlados. Mas as grandes varejistas também mostram que é possível praticar a transparência em larga escala. A incubação de marcas pequenas que trazem um modelo de transparência inovador em seu próprio conceito, por parte de grandes varejistas, é um exemplo tão recomendado, quanto à encubação de startups. Eventos ligados à sustentabilidade, como o Brasil Eco Fashion Week são um bom observatório para esse tipo de parceria. Às vésperas do Fashion Revolution Brasil, que acontece entre os dias 22 e 28 deste mês, estão todos com as antenas ligadas para captar as melhores e mais inspiradoras referências.

Fonte: Vivian David | Fotos: Reprodução