Denim Meeting Talks exalta a potência das lavanderias nacionais

É um orgulho afirmar que o Brasil possui uma indústria têxtil grandiosa, especialmente quando falamos do segmento denim. Podemos seguramente classificá-lo como uma potência, da produção ao consumo. E um dos elos desta cadeia que concentra maior capacidade de agregar valor ao setor no jeans nacional, embora nem todos saibam, é o das lavanderias.

Contudo, apesar de ter feito o dever de casa no que diz respeito a sustentabilidade, tecnologia e inovação, este setor tão singular da nossa cadeia ainda enfrenta muitos obstáculos que o impedem de ocupar o status merecido. Com o propósito de trazer a tona essa realidade para um debate construtivo, a programação online do Denim Meeting abordou o cenário durante o Talks: Lavanderias confira a transmissão completa.

Com mediação da CEO do Guia JeansWear, Iolanda Wutzl, a transmissão reuniu grandes nomes deste elo específico. Marco Brito, CEO do grupo GB CustomizaçãoHiago Martins, coordenador de desenvolvimento da Lavanderia CristalJúlia Stolfo, consultora de lavanderia e realizadora do evento Casa Denim, e Paulo Rabelo, diretor da lavanderia Benatêxtil, foram os nomes selecionados para falar sobre as lavanderias brasileiras. Já para representar a união e o senso de articulação do setor, o time integrou o nome do Dr. Othon Barcellos, diretor da ANEL (Associação Nacional das Lavanderias Têxteis).

Iolanda Wutzl iniciou a transmissão explicando o motivo que levou a edição online do evento a incluir as lavanderias com destaque na programação. Segundo ela, faz-se necessário uma conscientização do quão grandiosa é a nossa indústria de lavanderias e seu potencial de transformação. A CEO observou que em nosso país, nem sempre o confeccionista reconhece este valor e lembrou que existe uma carência de profissionais qualificados para atuar neste segmento.

O conhecimento necessário para que os profissionais atuantes melhorem cada vez mais nosso mercado local foi o primeiro tópico abordado pelo debate. Marco Brito destacou que o nível dos estilistas formados no Brasil, que atualmente é bastante elevado. Quanto ao que poderia acentuar esta qualidade, mencionou o conhecimento técnico sobre o tecido – especificamente as bases do denim, para que os resultados pós-lavanderia possam ser otimizados.

O papel relevante da abertura da Denim City São Paulo nesta trajetória de lavanderia foi lembrada por Iolanda e reafirmada pelo depoimento de Marco, que assistiu a transformação que a escola promoveu em Amsterdam, na Holanda, e compartilhou que a vinda de uma filial para o Brasil representa a concretização de um grande sonho de muitos profissionais do setor.

“A lavanderia da Denim City representa uma ruptura que vai ajudar muito na formação tanto dos profissionais quanto dos estilistas que vão entrar no mercado”, afirmou CEO do grupo GB Customização.

Dando sequência ao debate, Paulo Rabelo apologizou que as indústrias que integram a cadeia possuem uma obrigação moral de ajudar na formação dos profissionais. Expondo boas iniciativas, contou que o Senac conta com um software MYR e que o Senai inaugurou um curso completo sobre lavanderia. Contextualizando a complexidade do know-how que envolve o setor, comentou: “É tanta informação que os profissionais ainda acham que não sabem de nada.”

Legitimando todas as falas anteriores, Iolanda Wutzl lembrou uma observação feita por François Girbaud, na ocasião em que veio ao Brasil para participar do Denim Meeting. O estilista expressou seu inconformismo com a percepção das lavanderias como um elo de menor valor e questionou o fato delas estarem tão escondidas. Para o francês, as lavanderias deveriam ser a vitrine de qualquer marca de jeans.

Ao acrescentar sua visão ao debate, Júlia Stolfo concordou que os estilistas saem muito crus da faculdade, mas lembrou que nenhum profissional sai da universidade pronto. Assim como Paulo, apologizou a obrigação moral das indústrias proporcionarem espaço para que os novos profissionais se tornem completos. Ao mesmo tempo, lembrou que os estudantes também tem seu papel nessa transformação, ficando a cargo deles se interessarem e buscarem fazer estágios.

Comprovando a teoria, Iolanda Wutzl lembrou que seu primeiro estágio foi em uma das tecelagens de denim que hoje está entre as mais importantes do mundo. Atendendo ao convite de compartilhar com o público a proposta do evento Casa Denim, Júlia Stolfo explicou que o evento apoia estilistas que estão saindo das universidades.

“No ultimo Casa Denim, fizemos o laundries do Brasil, selecionamos dez lavanderias do pais e mandamos artigos para que eles desenvolvessem suas propostas. O resultado final ficou exposto no Casa Denim e gostamos tanto que fizemos um ensaio fotográfico para divulgar os profissionais envolvidos”, apontou.

Hiago Martins reafirmou a importância da formação de bons profissionais em lavanderia, mas acrescentou que embora esta função seja centralizada pela Denim City SP, o Senac vem somando importantes contribuições no sentido de suprir essa carência na região Nordeste.

Já na região de Santa Catarina, onde a Lavanderia Cristal está estabelecida, segundo Hiago, existe também um curso de extensão ligado a uma faculdade comunitária, que aborda o conceito de jeans transcorrendo um conteúdo que vai do fio ao tecido, e do tecido à lavanderia. “O curso também é muito legal porque proporciona o uso do MYR”, contou.

Segundo o coordenador de desenvolvimento, os benefícios proporcionados pela oferta de uma formação especializada já foram sentidos pelo mercado da região. “Já vimos exemplos de marcas que não precisarem realizar nenhuma repilotagem”, exemplificou Hiago Martins, que defendeu que os cursos específicos e de extensão somam melhor efeito do que a inclusão de conteúdos na própria grade de formação das faculdades de moda.

Explicando as ações realizadas pela ANEL durante o acometimento da pandemia do novo coronavírus, Othon Barcellos destacou que de todas a mais relevante foi a manutenção das atividades das mesmas durante a crise. Segundo o diretor, a categorização no status de serviços essenciais foi uma conquista assegurada pela entidade que ajudou a evitar o impacto negativo provocado pela crise.

“Também buscamos certificações das lavanderias domesticas, hoteleiras e estamos abertos a trabalhar a certificação das lavanderias do jeans juntamente com as pessoas do jeans”, afirmou. Concluindo suas falas, Othon convidou publicamente os participantes do grupo presentes no webinar a somar esforços com a entidade para tocar a ideia adiante.

Complementando as falas do presidente da ANEL, Iolanda Wutzl lembrou o quanto a lavanderia se prejudica quando toma culpa em algum julgamento técnico, simplesmente por ser o elo mais fraco da cadeia. Nesse sentido destacou a importância do trabalho da associação, que vem fazendo esse julgamento com confiabilidade e integridade garantindo a devida justiça nos casos em que atua.

A forma como as lavanderias podem influenciar o resultado de uma coleção para os confeccionistas foi um dos recados colocados pelo webinar.

Para Marco Brito, o desenvolvimento do jeanswear é uma escolha de três variáveis: fit, base de tecido e lavanderia. Juntos, estes três fatores representam 80% do sucesso de um produto. Na opinião do executivo, a grande busca atual é conseguir o melhor custo-benefício do consumidor, o que depende muito do diferencial que a lavanderia oferece para a confecção.

“A lavanderia vai ter lucro e rentabilidade quando converter seu serviço em lucro para o cliente”, defendeu Marco Brito, explicando que o retorno do setor depende muito do seu próprio posicionamento. Como alternativa para as lavanderias realizarem uma melhor gestão de custo e  produção sugeriu: “É melhor reduzir a produção, e melhorar a qualidade, sem baixar o preço”.

Em seguida, o CEO do grupo GB Customização recomendou que em momentos de pouco demanda, como o atual, as lavanderias aproveitem para investir na formação e em novos processos.

Júlia Stolfo opinou que tratamentos caros não garantem que as marcas atinjam seu público adequadamente, e lembrou que a “equação” envolve também a variável identidade do consumidor. “As lavanderias também tem seu posicionamento e identidade de marca”, afirmou.

“Acho que se eu fosse dono de confecção eu ia ficar maluco da vida pois cada representante apresenta uma diversidade muito grande de tecidos”, comentou Paulo Rabelo, afirmando que o inverso seria mais sensato. “O cliente tem que estudar e saber a capacidade de cada artigo, e a lavanderia tem que fazer o melhor com aquele artigo”, completou.

Ainda abordando os custos, Hiago Martins defendeu que não existe lavanderia cara ou barata. “O que pode mais influenciar uma coleção é o conhecimento do cliente, e do consumidor”, exemplificou. ”Nosso consumidor final compra pela beleza e pelo conforto ele não sabe o que é bigode ou o que é T400”, completou, atribuindo a responsabilidade das escolhas que envolvem esse processo também aos confeccionistas..

Iolanda Wutzl lembrou que o consumidor está ficando mais atento para esta percepção de qualidade. Em seguida, convidou Othon Barcellos colocar para as lavanderias um conselho de sobrevivência. “Quem sobrevive não é o melhor ou mais rico mas o que se adapta melhor as mudanças”, afirmou o diretor da ANEL, lembrando que o setor de denim é muito inovador e adaptativo a qualidade e alertando que o pós-Covid-19 vai exigir essas atribuições.

Sustentabilidade foi o tópico levantado para encerrar o debate com falas de inovação e otimismo. Hiago Martins compartilhou o conceito de marketing da lavanderia 5.0, que envolve as tecnologias disponíveis na Lavanderia Cristal e permitem tal enquadramento.

Na lista de qualificações, citou as tecnologias de laser, ozônio e nebulização que permitem a redução do uso de químicos e a experiência com enzimas inovadoras e tingimentos evoluídos no mercado. Também mencionou o reuso da água para que a mesma seja devolvida de uma forma melhor para o meio ambiente.

“Em um futuro próximo, a água será escassa e as empresas que não tiverem o circuito fechado vão sofrer”, alertou. O quinto ponto, segundo Hiago, consiste em um software que permite a mensuração dos resultados. “Continuamos com processos horizontais mas já estamos iniciando a adaptação desse novo processo”, compartilhou.

Marco Brito recordou que a GB Customização foi pioneira em eliminar a mão de obra manual, o que na época foi bastante polêmico. Em seguida, afirmou que ainda hoje existem peças no mercado criada por estes processos manuais, muitas vezes por escolha das marcas ou lavanderias.

Paulo Rabelo apontou que o uso do laser já tem uma trajetória de quatorze anos e o ozônio de seis. “Na ponta do lápis, é bom recordar isso para que se possa identificar a mudança na receita da empresa”, explicou ele, ressaltando as tecnologias eco-friendly e o retorno que as mesmas trazem para as lavanderias. Por fim, defendeu o estudo como principal estratégia evolutiva: “A lavanderia tem que deixar de ser empírica e ir atrás dos porquês.”

Júlia Stolfo defendeu a otimização dos processos não apenas pelo fator sustentabilidade, mas como exigência para longevidade da própria companhia. Também abordou a questão do cuidado humano. “Sustentabilidade incorpora desde o ambiente de trabalho até as novas tecnologias”, analisou, apontando ainda que é difícil ser 100% sustentável por conta das marcas, já que nem todas estão atentas à isto.

Hiago Martins falou dos três pilares que definem o conceito atual de sustentabilidade: social, econômico e ambiental. Em seguida, citou diversas práticas que exemplificam a questão social e são adotadas na Cristal, como a oferta de um ambiente limpo e iluminado e alimentação balanceada em refeitório da empresa evitando o deslocamento do funcionário.

Ao final da transmissão, todos os participantes agradeceram a iniciativa do Guia JeansWear e elogiaram a preocupação do portal em auxiliar a cadeia do denim brasileiro com informações pertinentes. Emocionada com as manifestações de apoio, Iolanda lembrou das dificuldades do inicio do estabelecimento do portal.

Agradecendo as parcerias que impulsionaram a companhia no início da sua trajetória, recordou ainda os primeiros anunciantes que impulsionaram a trajetória do portal, como Clariant e o próprio Marco Brito, da GB Customização. Por fim, mais uma vez, a CEO do Guia JeansWear afirmou que acredita no nosso mercado e que tem convicção que podemos ser uma potencia no denim.

Fonte: Vivian David | Fotos: Reprodução