Francisco Alves, CEO da Levi’s aborda o mercado e o consumidor jeanswear

A Denim City SP promoveu uma conversa super rica com Francisco Alves, CEO Brasil, Argentina e Uruguai, da Levi’s, que comentou sobre o jeans e o mercado. Segundo o profissional, no pós-pandemia, o consumidor mudou seus hábitos e continuou a consumir produtos confortáveis, mesmo na volta à rotina normal. Atualmente, o consumidor está mais exigente e além disso, o valor pesa muito na decisão de compra.

“O jeanswear concorre, hoje, assim como o vestuário, com outras coisas que o cliente decide usar com a carteira dele. Às vezes, ele fala, esse mês não vou comprar uma calça jeans, vou continuar usando a minha velha, vou investir num bom restaurante. Ele vai buscar uma experiência ou vai trocar o celular”, diz Francisco.

O CEO conta que nos últimos 10 anos, foram pouquíssimas as marcas que conseguiram dar retorno positivo para os acionistas. “O mundo do vestuário está sofrendo e o segmento jeanswear está inserido nisso. Mas qual a vantagem do jeans? 85% dos consumidores do Brasil e, no mundo não é diferente, querem ter um jeans no guarda-roupa. Ele é democrático, fácil de usar, não tem complicações e agora com a variedade de fios que você encontra, pode ser ainda mais confortável. A oportunidade está exatamente nisso. Identificar o que o consumidor está buscando e ser ágil para mostrar essa solução” reflete Francisco.

Questionado pela mediadora, Juliana Jabour, gerente de desenvolvimento e novos negócios para a América do Sul do Grupo Lenzing, sobre como se tornar relevante no mercado, Francisco disse que não há uma resposta definitiva, mas que a Levi’s tenta acompanhar as tendências de moda, mantendo aspectos originais do produto da marca, entregando o que o cliente pede.

“Por exemplo, nesse semestre, estamos ampliando a linha de wide leg, com diversas variações, como a super wide, a bag e, trazendo isso, inclusive para os homens”, comenta Francisco.

E continua: “Levar para o consumidor tudo isso mantendo a originalidade e, ao mesmo tempo, a conexão. Hoje qualquer boa marca que trabalhe com responsabilidade social, pode ter um produto de boa qualidade. Então, como você se diferencia? Na nossa visão, é manter a conexão com o consumidor. Isso não significa fazer promoção o tempo todo para ele comprar só a minha marca, significa levar mensagens para o consumidor, que sejam legítimas e tratá-lo com respeito. A gente faz isso através da nossa comunicação”.

Sustentabilidade

A Levi’s está sempre buscando novas soluções para mitigar os efeitos negativos ao meio ambiente. Francisco diz que há ainda muita coisa a ser feita, mas que avançaram muito, principalmente, na redução de água. Hoje, uma calça jeans pode ser produzida com apenas 800ml de água. Outra alternativa é utilizar o cânhamo, fibra derivada da Cannabis e que necessita de menos água na hora do plantio. Além disso, a Levi’s não utiliza poliéster em seus produtos e buscam otimizar custos e volume de produção.

O profissional cita também a utilização do laser que elimina a água e é realizado nos centros de distribuição e não na fábrica, o que reduz o transporte de peças para diferentes locais.

Sobre a experiência phigital, Francisco não acredita que o e-commerce possa roubar 100% da experiência que a marca possa dar ao consumidor num ponto de venda. Ele cita como desvantagem o problema dos tamanhos e por mais que tenha o provador digital e todas as tecnologias, ainda nada substitui um bom atendimento no provador. “Cabe a nós, fabricantes e varejistas, entenderem que, de fato, o momento na loja, precisa ser de experiência, porque é ali que realmente você vai entregar essa diferenciação e vai ganhar em cima do e-commerce aquilo que ele não consegue entregar. Isso precisa ser um jogo de parceria.

Uma vantagem do e-commerce é o estoque ilimitado e centralizado, nas lojas vai estar descentralizado. Por isso, tem o lugar dele. O melhor dos mundos é você conquistar seu cliente pela loja física, pela experiência, pelo contato. Uma vez que ele conhece seu produto, já sabe o tamanho e, se veste bem, vai procurar pelo e-commerce”, afirma Francisco.

Second Hand e Upcycling

Segundo Francisco, é muito saudável para a indústria de moda como um todo ter opções como as lojas de segunda mão e o conceito de upcycling, principalmente no jeans.

“A gente adora ver uma calça vintage da Levi’s que foi reformada e está à venda num brechó ou loja de segunda mão. E as marcas devem trabalhar produtos duráveis, que vão ser usados durante muito tempo e podem ser reaproveitados no upcycling”, comenta Francisco.

O jeans no Brasil

“Hoje o consumidor olha as marcas como uma maneira de se identificar, de encontrar algo nelas. Se você quer se diferenciar, encontre sua comunidade e se conecte com ela. Esse é o caminho, fácil falar, difícil executar, mas esse é o caminho, encontrar seu tom de voz, como a gente se comunica com o cliente? Quando fazemos uma campanha, trazemos as dores que a sociedade está discutindo no momento”, diz Francisco. Agora, por exemplo, o foco é o empoderamento feminino com a campanha que leva a Beyoncé.

E o Brasil é um grande produtor e consumidor de jeans, porém, segundo Francisco, a dificuldade de vender moda no país é que 82% da população é da classe C para baixo, isso significa que sobra uma parcela pequena da população que realmente tem um poder aquisitivo para comprar produto de primeira qualidade ou com alta informação de moda.

As maiores varejistas no Brasil, como Renner, Riachuelo e C&A estão focadas em entregar preço e tentam levar alguma informação de moda, dentro da limitação de preço que elas têm. Essa é a grande característica do mercado brasileiro, que tem consumidores que entendem e querem consumir tendências.

Inovação e Identidade do denim

“A Levi’s não é por tradição a marca que vai lançar tendências, você nunca vai ver uma calça disruptiva, isso não está no DNA da empresa, e tudo bem, porque não precisamos ser inovadores. O que vamos fazer é observar a tendência, ver como o público vai naquela direção e, aos poucos, vamos moldando nossa coleção. Temos 680 artigos diferentes a cada semestre, entre masculino e feminino, alguns vêm com essa inovação e relançamos cápsulas antigas,” afirma Francisco.

Por fim, Francisco aborda a importância de entender as novas gerações como a Z e os millennials, adequando as coleções para esses consumidores. E a dificuldade de achar mão de obra especializada, como costureiros e, na ponta do varejo, pessoas que queiram trabalhar de final de semana, o que é até válido para os funcionários. Será que ainda teremos shoppings abertos aos domingos?

E qual seria um futuro próximo para o jeans? Francisco aponta fits que conferem conforto em modelagens soltas, tanto para as mulheres, quanto para os homens que começam a aderir, aos poucos.

“Eu vejo um componente de performance, algo que traga conforto térmico ou algum atributo, como uma peça que não amassa, peças mais elásticas que servem para fazer esportes, uma migração entre o jeans tradicional e os produtos ‘athleisure’, que podem ser usados no dia a dia. Isso, acontece muito nas jaquetas esportivas ou sociais e nas calças”, explica Francisco que comentou sobre o conforto e a versatilidade que o jeans oferece, no sentido de ser uma peça flexível e que possa ser usada em qualquer ambiente.

Atemporalidade, versatilidade, conforto, tecnologia e tradição andam juntos no denim da Levi’s que se mantém há mais de um século no mercado jeanswear.

Fonte: Vanessa de Castro | Foto: Divulgação