A Inteligência Artificial (IA) já não pertence mais ao imaginário futurista — ela é realidade concreta e estratégica no setor da moda. Em um mercado que busca cada vez mais agilidade e precisão, algoritmos vêm sendo aplicados para otimizar desde a logística até a definição de sortimento e distribuição de produtos. Essa tecnologia permite decisões baseadas em dados reais de consumo, reduzindo o risco de suposições e elevando o padrão de eficiência nos bastidores da indústria.
Durante o Inside Fashion Business, realizado no escritório do Google, a palavra “eficiência” uniu debates sobre criatividade, operação e estratégia. Mas, ao contrário da visão tradicional associada a cortes e contenção, o termo apareceu com um novo significado: eficiência como sinônimo de inteligência aplicada, automação e geração de valor. O evento destacou como a IA pode libertar os profissionais das tarefas repetitivas e abrir espaço para o trabalho humano mais nobre — o criativo e o cultural.
Um dos momentos mais simbólicos do encontro foi a condução feita por Tainá, mestre de cerimônias criada por IA, que sinalizou uma mudança de paradigma: investimentos antes destinados a produções fotográficas e materiais promocionais podem ser drasticamente reduzidos com ferramentas tecnológicas acessíveis. Essa transformação revela uma nova lógica de negócios, em que marcas que combinam sensibilidade estética com inteligência analítica saem na frente.
A IA não substitui o trabalho criativo, mas elimina o improdutivo. Hoje, tarefas como classificação de produtos, sugestão de grade, atendimento ao cliente e análise de leads já são realizadas por agentes autônomos. Com isso, equipes humanas ganham tempo para criar narrativas, desenvolver coleções e fortalecer o posicionamento das marcas — ou seja, gerar valor genuíno. Essa foi uma das mensagens reforçadas por executivos da Calvin Klein, Alpargatas e Onebeat, que defenderam a gestão de varejo baseada em dados em tempo real e automação.
O evento também trouxe números relevantes sobre o mercado brasileiro. Segundo o IEMI, embora o consumo de vestuário tenha recuado 5,2% entre 2019 e 2024, estados como Mato Grosso (40,1%) e Santa Catarina (38,5%) registraram crescimento entre 2021 e 2024. Isso evidencia a importância de decisões guiadas por inteligência de mercado, com adaptações por região e canal. Gigantes como o Grupo La Moda e o Grupo Lunelli ilustraram como o uso de IA e cultura de dados pode garantir capilaridade e eficiência no relacionamento com milhares de pontos de venda.
Encerrando o evento, Viviane Melchert, do Google, apresentou os “4 S’s” que traduzem o novo comportamento do consumidor: Streaming, Scrolling, Searching e Shopping. A jornada de compra agora começa com vídeos, passa pela navegação em redes sociais e termina em decisões influenciadas por criadores de conteúdo. Nesse contexto digital, o verdadeiro luxo não está só nos produtos, mas na capacidade da marca de ser rápida, precisa e coerente em todos os seus pontos de contato. A IA, silenciosa e irreversível, é hoje a aliada mais poderosa dessa transformação.
Fonte: Ana Gimonski | Foto: Divulgação