Moda perde espaço nos shoppings, mas segue essencial no mix comercial

O setor de vestuário vem passando por uma transformação profunda dentro dos shoppings centers brasileiros. Há dez anos, as lojas de roupas ocupavam 53% da área comercial dos centros de compras da Multiplan, uma das maiores redes do país. Hoje, esse percentual caiu para 32%, segundo balanço divulgado em março deste ano pela própria companhia. A redução reflete mudanças significativas no comportamento do consumidor e nas novas prioridades de consumo.

Entre 2008 e 2024, o consumo de roupas no Brasil caiu 9,1% em valores reais, segundo o instituto IEMI. O recuo foi ainda mais expressivo globalmente: 6,1%. Desde o período pré-pandemia, a retração nacional chega a 5,2%. Essa mudança de hábito não é pontual nem isolada — revela um cenário em que o desejo por roupas foi substituído por gastos com alimentação, serviços e entretenimento. Para Marcelo Prado, fundador do IEMI, o maior desafio do setor é “se reconectar com o público-alvo e gerar valor“.

Ao mesmo tempo, o domínio das grandes redes e do varejo asiático aumenta. Renner, C&A e Riachuelo seguem liderando a lembrança do consumidor, mas a chinesa Shein, mesmo sem lojas físicas, já aparece empatada com a Zara no quarto lugar entre as marcas mais citadas. A disputa torna ainda mais difícil a sobrevivência dos pequenos varejistas, que enfrentam desafios de escala e tecnologia, ampliando a concentração do mercado nas mãos de grandes operadores.

Ainda assim, a moda continua ocupando um espaço relevante nos shoppings, com cerca de um terço das 155 mil lojas de roupas do país instaladas nesses centros. O número total de pontos de venda cresceu desde 2019, principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, puxado por lojas multimarcas independentes. Esses estabelecimentos representam 85% dos pontos de venda e respondem por 30% do faturamento do setor, embora enfrentem dificuldades para competir com grandes redes e o e-commerce, que juntos concentram quase 60% das vendas.

Dentro desse novo panorama, uma tendência se destaca: a moda circular. Impulsionada pelo crescimento do consumo consciente e das novas gerações, o mercado de roupas de segunda mão já representa 12% do vestuário nacional e deve chegar a 20% em 2025, movimentando cerca de R$ 24 bilhões. Segundo o BCG, o setor pode alcançar R$ 78 bilhões até 2027, somando canais físicos e online. A presença de brechós em shoppings ainda é tímida, mas o avanço do segmento indica que essa realidade deve mudar em breve.

A moda pode não ser mais protagonista absoluta dos shoppings, mas continuará relevante no mix comercial. Com a chegada de novas marcas internacionais, como a H&M, e o reposicionamento de gigantes locais — como a Renner com a Youcom voltada à geração Z —, o setor se reinventa. No entanto, a diversidade de formatos e o apoio aos pequenos lojistas serão essenciais para manter o equilíbrio entre desejo, experiência e viabilidade comercial nos centros de compras.

Fonte: Ana Gimonski | Foto: Divulgação