A indústria da moda rápida, ou fast fashion, tem transformado a maneira como os consumidores compram roupas, oferecendo preços ultrabaixos e ciclos de produção condensados para lançar novas tendências em tempo recorde. Esse modelo de negócios, no entanto, traz consigo desafios significativos, tanto ambientais quanto sociais. Com a indústria da moda avaliada em US$ 1,7 trilhão em 2023 e empregando mais de 300 milhões de pessoas globalmente, o impacto do setor é imenso. Entre 2000 e 2014, a produção de roupas dobrou, e a quantidade de peças compradas por pessoa aumentou cerca de 60%.
A ascensão da fast fashion é impulsionada pelo desejo dos consumidores de renovar constantemente seus guarda-roupas a preços acessíveis. Segundo o relatório The State of Fashion 2024, 40% dos consumidores nos EUA e 26% no Reino Unido compraram em gigantes do setor, como Shein e Temu, em 2023. Essas plataformas, junto com outras grandes redes, consolidaram sua posição no mercado, tornando-se os principais destinos de compras de moda online nos Estados Unidos. Além disso, o conceito de ultrafast fashion está ainda mais acelerado: a Shein, por exemplo, lança até 10.000 novos designs por dia, com preços médios consideravelmente mais baixos do que seus concorrentes tradicionais, como Zara e H&M.
Porém, a velocidade da fast fashion tem um preço alto. A previsão é que, até 2030, o consumo global de roupas aumente 63%, chegando a 102 milhões de toneladas. No entanto, muitas dessas peças são tratadas como descartáveis: algumas estimativas indicam que consumidores jogam fora roupas de baixo custo após apenas sete usos. Como resultado, para cada cinco peças produzidas, três acabam em aterros sanitários ou são incineradas. O setor têxtil também gera cerca de 1,2 bilhão de toneladas de emissões de gases de efeito estufa anualmente, superando as emissões combinadas de todos os voos internacionais e transportes marítimos. Além disso, trabalhadores da indústria enfrentam condições precárias e baixos salários em algumas fábricas.
A preocupação com esses impactos vem crescendo, especialmente entre os millennials e a Geração Z. Embora metade dos consumidores da Geração Z na China afirme querer reduzir o consumo de fast fashion, o comportamento nem sempre acompanha a intenção: no Reino Unido, 46% dos consumidores dizem evitar fast fashion, mas mais da metade ainda comprou em varejistas do setor no último ano. A sustentabilidade, embora urgente, tem sido postergada por muitas marcas. De acordo com o relatório The State of Fashion 2025, 63% das empresas estão atrasadas em suas metas de sustentabilidade, algumas até abandonando compromissos de longo prazo.
Para reverter essa situação, especialistas apontam caminhos para tornar a indústria mais sustentável sem comprometer a competitividade. Entre as principais estratégias estão a adoção de materiais mais ecológicos, o aprimoramento da eficiência energética na cadeia produtiva e o desenvolvimento de modelos de negócios que priorizem a circularidade da moda. Embora os consumidores tenham demonstrado resistência em pagar mais por produtos sustentáveis, as marcas que adotarem abordagens inovadoras e coerentes com suas metas ambientais poderão se destacar no mercado e conquistar vantagem competitiva a longo prazo.
Fonte: Ana Gimonski | Foto: Divulgação