Na última quarta-feira (09/04), a Reptilia apresentou sua nova coleção no SPFW N59, firmando-se como uma das marcas mais conceituais da moda brasileira atual. Em seu segundo desfile na semana de moda, a grife comandada por Heloisa Strobel trocou o céu pelo chão: a coleção “Tectônica” parte da superfície da Terra e das camadas subterrâneas para construir um olhar estético sobre transformação, estrutura e força. A natureza em movimento constante serviu como metáfora para as peças, que dialogam com mudanças físicas e simbólicas.
Com alfaiataria precisa e silhuetas arquitetônicas, a Reptiliaexplorou formas que remetem às fissuras geológicas e ao deslocamento das placas tectônicas. Casacos, pelerines e peças articuladas foram pensadas como organismos vivos, capazes de se transformar – como a camisa Camadas, que adapta o comprimento das mangas a partir da sobreposição de faixas de tecido. A estética da Era Vitoriana também apareceu como referência sutil, nas capas com zíper e nos volumes estrategicamente posicionados, tudo sem perder a assinatura minimalista da marca.
A sustentabilidade, um dos pilares da Reptilia, ganhou nova dimensão nesta coleção. A marca deu um passo técnico importante ao adotar o corte a laser em suas peças, o que permite um acabamento limpo e precisão arquitetônica. As sobras desses cortes foram reaproveitadas como elementos decorativos manuais, reafirmando o compromisso com o design de desperdício zero. Além disso, fotografias autorais feitas por Heloisa no Oriente Médio foram transformadas em estampas digitais inéditas para a grife, explorando a visualidade do solo e da água. Para construir suas criações, a marca utilizou tecidos da Vicunha – Felipe, White Jeans Stretch Plus II e Moore – que contribuíram para a estrutura e a estética sofisticada das peças apresentadas.
Outro avanço significativo foi a ampliação do guarda-roupa masculino na coleção – agora representando 20% do total. As peças voltadas aos homens seguem a linha sofisticada da alfaiataria da Reptilia, mas com um olhar feminino e fora do óbvio, trazendo novas leituras para a silhueta masculina. Para complementar os looks, a designer Juliana Bicudo assinou uma coleção cápsula de acessórios com mocassins, bolsas e cintos que traduzem em couro e textura o mesmo conceito de camadas da coleção principal.
Ao mergulhar num território ainda pouco explorado – o chão que pisamos e suas dinâmicas invisíveis – Heloisa Strobel conseguiu criar uma coleção profunda tanto no conceito quanto na execução. “Tectônica” consolida o DNA da Reptilia, ao mesmo tempo em que aponta para o futuro da marca: mais experimental, mais técnica e ainda mais conectada às forças silenciosas que moldam o mundo.
Fonte: Ana Gimonski | Foto: Divulgação